Capítulo 3

O inferno passando a céu?

Segunda-feira, 28 de Setembro

Sarah

Estou feliz. Estou muito feliz.

Estou feliz porque hoje a nossa professora disse isto:

– Muito bem, meninos, temos umas alterações a fazer, aqui - ela não conseguiu ignorar mais a conversa sussurrada da Mariah e da Ruth. - Srta Toulouse e Srta Rathbone, exatamente! Vocês vão mudar de lugar, já não aguento ouvir mais conversa entre vocês. A Srta Rathbone pode trocar ali com o Sr London - nenhum dos dois se mexeu. - Estão esperando o quê? Agora, vamos. Isso, prometo que não vai custar tanto assim. E não vale a pena bufar, Srta Toulouse, quem manda aqui sou eu - a professora suspirou. - Outras notícias... O Sergey Cannon, que estava ao lado da Srta Bayley, anulou a matrícula - então era por isso é que o meu parceiro de mesa faltava tanto... - Já tentei fazê-lo mudar de idéia, mas não adiantou. Então, ficamos com um aluno à menos na turma. E sendo assim, o Sr York deixa de ficar aí para trás, e faz o favor de passar para o lado da Srta Bayley, pode ser?

OMG!

Pode ser? Pode ser?

– Claro! - olhei para o Taylor, que sorria. Como sempre.

Ele apressou-se a obedecer à professora e, em nada, estava completamente instalado ao meu lado. A parte engraçada - e sintam a ironia - de querer falar muito com uma pessoa é que, quando finalmente podemos, não sabemos o que dizer.

– Espero ser um substituto à altura do seu antigo parceiro - óbvio que tinha de ser ele a começar a conversa.

– Numa semana de aula, só o vi umas 3 vezes. Você está ganhando, acredite– ele sorriu.

Foco, Sarah. Foco.

– Mas foi uma decisão um bocado estranha. É que nem uma semana ele tentou, mais valia nem se ter matriculado...

– Vai ver, e eu o afugentei - ele riu fraco. Certo, respira apenas.

– Por favor... No mínimo, você o fez ficar mais tempo - eu não aguentei, dessa eu tinha que rir! Ou será melhor dizer dar uma gargalhada extremamente alta e embaraçosa? Pois é...

– Posso saber o que é que tem tanta piada, Srta Bayley? - e logo agora que eu tinha começado a gostar da professora...

– Desculpe - ela se voltou de novo para o quadro.- Sim, posso saber o que é que tem tanta piada? - repetiu o meu novíssimo parceiro de mesa (e não, eu ainda não me conformei).

– É só que isso é... Uma idéia estranha - é, obviamente eu sou ótima a fazer novas amizades. Ficamos um bocado em silêncio e eu reparei - só então - que tinha o caderno errado aberto. É, às vezes também sou desmiolada. Peguei o caderno certo da mochila e o pousei em cima da mesa.

– Esses são os Beatles? - perguntou o Taylor, apontando para a capa do meu caderno. Eu ri fraco, ele estava espantado.

– Não me ouviu falar que não gosto dessa música de massa que passa agora na rádio?

– Sim, você é bem rockeira, eu sei. Mas... os Beatles...

– Você os ama assim tanto?

– Lógico, né, eles são verdadeira música. E por aqui quase ninguém gosta...

– É, gente de Franklin tem mau gosto. É geral - ele assentiu e sorriu, me levando com ele - Na verdade, eu só os tenho aqui porque eu não tenho fotos da minha banda favorita...

– Sério? Quem são? - suspirei. Isso seria estranho.

– Hmm... Eu prometo que não sou seguidora, nem obcecada... - ele me olhava confuso. Suspirei de novo. - Bem... Eu amo a Paramore - o maxilar dele caiu na minha frente.

– A... A Pa... N-nós? Você sabe que essa é minha banda, certo? - assenti, mordendo o lábio inferior. Ele estava reagindo de uma forma que eu não esperava. - Eu não acredito... Nós somos sua banda favorita? Mais que os Beatles, até?

– Eu sei que vocês não são profissionais, mas vocês têm muito potencial. E, bem... vocês me inspiram - ele ainda me olhava estranho, e eu só queria saber o que ele estava pensando. Isso poderia acabar mal?

– Nós temos uma fã número 1? Você está brincando comigo, só pode...

– Haha! Fã número 1! Por mim com certeza, mas vocês devem ter mais fãs...

– Fãs... Mais ou menos. Mas ninguém que diga que nós somos os seus favoritos.

– Deve estar brincando, vocês são incríveis! - ele riu fraco e balanceou a cabeça.

– Eu sei onde já te vi. Num dos nossos "shows", certo? - ele pediu, fazendo aspas com os dedos.

– Aspas não são precisas, vocês são ótimos ao vivo. Têm energia e tocam lindamente, muito melhor que muitos músicos ditos profissionais, que chegam ao palco e perdem o som.

– Ainda estou surpreendido, menina. Sério? Nós? Você nos escolhe a nós? - continuei rindo, como ele não acreditava?

– Claro! Em qualquer dia!

– Certo - ele assentiu devagar -, então você terá de conhecer a Paramore.

Dito e feito, nesse mesmo intervalo ele pediu desculpa à Jane e à Lisa por me roubar e me arrastou ao encontro dos seus amigos. Eu estava dividida entre a vergonha, a felicidade e a histeria. Quer dizer, eram Hayley, Jeremy, Zac e Josh ali na minha frente, para não falar de Taylor. Eu estava surtando e não sabia o que falar. Mas eles são tão simpáticos... e humildes. Nenhum deles conseguia acreditar que eu realmente os prefiro a qualquer outra banda. Hayley me abraçou de imediato! E eu devo ter ficado que nem um tomate... Eu consigo ser estranha às vezes, mas eles aceitaram minha estranheza muito bem. Tão bem que me convidaram para passar lá num ensaio! Eu acho que morri e fui parar no céu...

Lógico que eu vou, não é. Só tenho de arrastar Jane e Lisa comigo, e tudo correrá bem. Como poderia não correr? Eles são a Paramore!

Taylor

Ainda não acredito no que aconteceu hoje. Espera, me deixa processar...

Eu agora sou parceiro de mesa da Sarah! YEAR! E fiquei falando com ela a aula toda, a professora já estava duvidando de ter nos juntado. Mas os lugares lá atrás são péssimos, ela não me mandaria de volta, pois não? Hmmm... Tenho que tomar cuidado, não quero sair da mesa da Sarah.

Enfim, o que importa é que eu descobri que ela é nossa fã! Não fã de gostar, mas realmente fã, somos a banda favorita dela! Como assim? Eu não entendo, nós somos tão novos ainda e há tantas bandas incríveis por aí... Mas ela nos prefere. Eu fiquei... bem, na verdade, ainda não acredito. Então fiz a única coisa que poderia fazer: levei ela para conhecer o resto da banda.

Eles ficaram tão espantados quanto eu, nenhum de nós pensava que isso fosse acontecer tão cedo. Claro que a maior parte da gente que nos escuta nos curte, mas mais que qualquer outra banda, não. Bem que eu sabia que a conhecia de algum lugar! Eles também a acharam um pouco familiar e se deram muito bem com ela. Claro, né? Ela é muito tímida, isso se nota. Mas se ela se soltar e for realmente ela mesma, não tem como não gostar. Quer dizer, ainda só falei com ela essa manhã e a gente já brinca um com o outro. Traduzindo: ela fez o que toda a pessoa normal faz quando me conhece, ou seja, implicou com o meu cabelo. Eu até achei um pouco estranho, ela se abriu logo comigo. Não sei se foi por ser eu, o guitarrista da Paramore, ou se foi mesmo por ter dado uma chance para ela e, sobretudo, por ter tentado primeiro. É que só mais duas das meninas da turma sequer tentaram falar com ela, e me parece que elas ficaram bem amigas. Mas o resto... acho que eles nem a querem tentar conhecer.

Como eu dizia, ela é tímida, mas ela não se fecha a quem insiste com ela, como tantas pessoas. Ela só... bem, não sei ainda. Talvez tenha razões para ela ser assim. Mas eu também já tive e as ultrapassei. Aprendi que, na verdade, você é que dá o poder aos outros para te magoar. Se alguém te decepcionar, se algo acontecer, claro que sempre irá doer... mas você é que decide quanto, até quando e o que aprende com isso. Mas uma altura ou outra tudo tem que passar. Comigo foi assim.