Capítulo 5

Sing us a song

Terça-feira, 3 de Novembro

Sarah

Eu acho que ando sonhando. Sei lá, sempre espero acordar e ver que tudo isso foi só um sonho. Comecei o ano contando com a pior época da minha vida, e agora, me sinto mais feliz do que já estive nuns dez anos. Ou na vida inteira...

Por exemplo, hoje tive um dia espetacular. As meninas e o Taylor comeram aqui e fizemos o trabalho de história que a nossa querida professora se lembrou de marcar ontem para amanhã, além do monte de testes que tivemos nas últimas semanas. Claro que eu estou tentando ignorar o fato da Mariah Toulouse ser uma... pessoa desnecessária. Desde o início das aulas que ela deu para implicar comigo, mas ainda não fez nada demais e, além disso, estou demasiado feliz para ligar e me chatear. Mas me parece que desde que o Taylor veio para o meu lado piorou. Pois é, ela quer cantá-lo, mas não acho que vá ter muita sorte. O Tay tem melhor gosto que isso, just my humble opinion...

Mas era suposto eu estar falando sobre o porquê de eu estar feliz. Como estava dizendo, eles ficaram aqui a tarde toda e depois, como tínhamos combinado, fomos para a casa da Hayley. O Taylor tocou à campainha e a uma senhora baixa de olhos verdes nos abriu a porta.

– Olá, tia! - claro que eles deviam ter intimidade. Logo ela nos deu espaço para entrarmos, abrindo um sorriso muito bonito e bem parecido com o da Hayley.

– Olá, Taylor e... meninas!

– Ah, certo! Estas são Sarah, Lisa e Jane - ela sorriu a cada uma de nós.

– Prazer em conhecer vocês.

– O prazer é todo nosso, Sra Williams - falou Lisa, a mais educada ou a menos desmiolada. Ainda não tenho certeza.

– Por favor, me chamem de Christie. Sra Williams me faz sentir velha - ri fraco.

– Já chegou alguém, tia?

– Só o Josh, querido. Já estão os dois na garagem, se quiserem ir para lá.

– Errr... Desculpem, mas eu preciso ir ao banheiro - disse Jane, com uma careta hilariante.

– É, eu também - apoiou Lisa. Christie simplesmente riu e revirou os olhos.

– Oras, então venham! E não precisam se desculpar por querer ir ao banheiro - foi falando ela, enquanto guiava as duas meninas para fora da cozinha e pelo corredor.

Eu e o Tay ficamos na cozinha, ainda rindo um pouco, quando uma melodia começou a soar (http://www.youtube.com/watch?v=S5y5cqPkL2M&feature=related ):

"Who knows what a little…

A little love can change?

I know just a little…

A little love will change you"

Olhei para o Taylor, pronta a perguntar quando tinham escrito aquele pedaço inacreditável de arte, mas encontrei antes um sobrolho franzido.

– Que foi?

– É só que... A gente nunca ouviu essa antes - encolhi os ombros e prestei atenção de novo na voz de Josh.

"Meet me in the middle,

In the middle we can be again.

If we meet in the middle,

I know you'll love me til the end"

– Talvez ele venha mostrar para vocês hoje.

– Então porque ele não esperou que todo mundo chegasse?

A campainha tocou, assustando a nós, mas com certeza assustando mais Josh, que parou imediatamente de tocar. O Taylor foi espreitar na janela e abriu um sorriso... hm... malandro? Depois me puxou pela mão até à porta. Abriu-a e escondeu-se, deixando uma certa Sarah muito perdida e com cara de idiota encarando o Zac. Ele ficou surpreendido por me ver, mas logo deu um sorriso largo.

– Sarah! - me abraçou e eu correspondi, desajeitada.

– Oi! - respondi, enquanto ele entrava para o meio do hall.

– O resto do pessoal? - aí o Taylor saiu de trás da porta e saltou em cima dele. Os dois soltavam alguns gritos fracos, e eu apenas ria feito louca.

– O qu--- - nem precisava continuar, Christie parou logo que viu quem era. Parecia estar já acostumada. - Oi, Zac!

– Olá, tia!

– O que está acontecendo? - Josh vinha na frente, parando no limiar da porta da cozinha. - Ah, oi... err... gente.

– Sarah! - Hayley falou, ultrapassando Josh e me vindo abraçar.

– Oi, e a gente não é pessoa? - resmungou Zac. Hayley respondeu-lhe com um soco no braço.

– Quando virar menina, eu te abraço também. E então, vamos para a garagem?

Nem foi preciso falar, Jane e Lisa já estavam chegando no hall.

– Meninas! - Hayley foi abraçar elas também, passando com dificuldade entre os restantes.

– Oi - falaram os outros dois meninos. Então a campainha tocou de novo.

– Abre por favor, Sarah? - sorri em resposta e obedeci. Jeremy entrou, cumprimentando todo o mundo com seu sorriso do costume.

– É bom te ver, Jeremy, mas nossa, quanta gente no meu hall!

Christie falou com razão, já estávamos mais parecendo sardinha em lata. Saímos todos para a garagem e ela ficou pela cozinha, insistindo em nos preparar o lanche. Eles ainda brincaram um pouco, mas chegada a hora de aquecer, todos se focaram no "trabalho" que tinham a fazer. Se nota que a música, e em especial a Paramore, é algo que é muito importante para eles - algo que já faz parte deles.

– Então, meninas, algum pedido? Costumamos começar com covers, mas hoje é um ensaio especial - Hayley piscou um olho para nós.

– Que tal vocês tocarem vossas covers favoritas e depois a gente pede? - sugeri.

– Às suas ordens! Que dizem, meninos, "My Hero"?

Eles concordaram e a música dos Foo Fighters começou a ganhar forma. Ficou diferente, mas na minha opinião, melhor. Também, o que eu não acharia melhor na voz da Hayley e nos instrumentos dos meninos? Depois, tocaram "Sunday, Bloody Sunday", dos U2, e ainda "Long Distance Call", dos Phoenix.

– Long time no see, long time no sa-ay! – nós aplaudimos, como fazíamos sempre. Era simplesmente impossível ficar quieta. Eles apenas sorriam, um pouco sem jeito - E aí, já escolheram?

– Eu quero ouvir "Another Day" - pediu Jane.

– Eu voto na "Oh Star" - respondeu Lisa.

– Anotado. E você, Sarah?

– Hmm... Deixa eu ver... "Hello Hello", "Emergency", "Here We Go Again" e "Adore". AH! E "My Heart", claro!

– Essas são nossas músicas todas! - falou Tay, com um sorriso.

– Não todas, falta "Swim In Silence" e "Conspiracy".

– Não gostou dessas?

– Também gosto, mas gosto mais das outras e não quis pedir mais - dei de ombros. Ele riu fraco e balanceou negativamente a cabeça.

– Meninas que sabem o que querem, gostei! - a restante Paramore revirou os olhos ao escutar (mais) uma piada/indireta de Jeremy. Quem o conhece, já espera isso.

– Gostando ou não gostando, elas pediram e vão ter - finalizou Hayley. -Alright guys, let's have some fun!

Começaram por "Hello Hello" e tocaram todas as outras, incluindo "Swim In Silence" e "Conspiracy". Terminaram em grande com "My Heart", e quando eu digo em grande, quero dizer que não é possível ver ela ao vivo e não se emocionar. É simplesmente poderoso.

Pelo meio fizemos algumas pausas, claro, inclusive para comer os magníficos sanduíches de manteiga de amendoim de Christie (nem tenho palavras para essa delícia). No fim, todos foram para suas casas, contando com Jane e Lisa. Taylor me levou em casa, já que a dele fica apenas algumas ruas depois da minha.

E pronto, foi esse meu dia incrível. Nem sei se parece grande coisa assim escrito, mas há coisas que não se pode descrever. Estar com amigos é uma delas. Te enche uma sensação de paz, sei lá, parece que tudo está bem no mundo. Como se o que importasse fosse apenas aquele momento ali, perto deles. E o resto... bem, o resto é história.

Taylor

Ah, meia hora livre antes de dormir, como eu te amo!

Ultimamente não tenho tempo para nada e ando sempre cansado. Se não fosse a Sarah, era capaz de adormecer nas aulas. E isso não pode acontecer, porque assim ainda me atraso mais.

Decidi sair do futebol. Fico todo partido e ainda me queima tempo. É uma ótima distração, mas agora não tenho tempo para distrações. Entristece-me, claro, gostava muito dos meus companheiros de equipe, mas não posso fazer mais. Vem aí a segunda rodada de testes e, se não tiver este tempo extra, não sei o que poderá acontecer.

Mesmo assim, hoje foi um ótimo dia. Fiz um trabalho com a Sarah, a Jane e a Lisa e depois as levei no ensaio. Os outros ficaram muito animados por vê-las lá e, sobretudo, por ver a reação delas às músicas. A Sarah deixou cair algumas lágrimas na "My Heart", e eu admito, isso me tocou. Não é uma música qualquer e para a entender desse jeito é preciso coração e fé. Não sei se é contagioso, mas vê-la desse jeito também me fez ficar com os olhos molhados. Enfim...

Treinamos as músicas novas, mas elas ainda precisam de muito mais trabalho. Têm de estar perfeitas para o concerto! Não podemos ir para lá tocar material antigo, e muito menos material ainda em bruto. Queremos inovar e surpreender. Com alguma sorte, a reação do público leva o agente a nos contratar. O público é uma parte essencial de qualquer atuação. Afinal, eles são a razão de tudo. É para eles que tocamos, é para eles que treinamos tanto. Um público animado, que canta e pula conosco faz qualquer música parecer um grande êxito, e é disso que nós precisamos – de um público feliz.

Isso me lembra: precisamos começar a tratar da publicidade, senão, adeus público! Não me posso esquecer de falar nisso amanhã à tarde…