Capítulo 9

The one I'm looking for



Música do capítulo: Adore

Quarta-feira, 23 de Dezembro
Sarah

Eu até começaria a falar sobre todos os elogios e coisas boas existentes à face da Terra, mas como acho que até isso seria dizer pouco, mais vale contar mesmo o que aconteceu. Sem censura, eu prometo.

Então estava eu aqui no meu quarto, xingando as meninas e seus atrasos, como você bem sabe, quando as benditas finalmente apareceram. Corri escada abaixo, acompanhando o ritmo louco da campainha e apanhando minha bolsa a meio caminho. Quando cheguei lá, as meninas e minha mãe já se estavam se cumprimentando e o meu avô se levantava para fazer o mesmo. Como eu esperava, Jane trazia sua melhor minissaia e o cabelo impecavelmente esticado, enquanto Lisa fazia muito bom proveito dos caracóis ruivos que já invejei aqui, e usava suas calças rasgadas nos joelhos e um top preto. Era fato: a gente estava pronta para rockar.

– Sarah! - gritou Jane, cumprimentando-me do seu jeito habitual. Isso, até ter realmente reparado em mim. Deixou cair o maxilar, enquanto Lisa arregalava os olhos - Isso que eu tô vendo é um short?! - Apenas ri e revirei os olhos, notando pela visão periférica a reação de meu avô, que parecia estar feliz por achar que Jane me iria dissuadir dessa ideia. Oh, ele nem sabia o quanto estava errado - AMEI!

– Sério, Sarah, porque você esconde essas pernas? - comentou Lisa. Meu avô parecia um pouco decepcionado, mas minha mãe assentia com um sorriso, ainda encostada à porta.

– Sempre falei isso para ela. Mas eu sou mãe, né, Sarah? - revirei os olhos de novo, dessa vez para ela. Porque é que as mães gostam tanto desse tom de "eu te avisei"? Pensava que a ironia devia jogar no time dos adolescentes - Mas você está realmente bonita, não acha papai?

Ele se surpreendeu, mas logo recuperou a postura, pigarreando. Ele não queria falar, mas agora que tinha a oportunidade, certamente não a iria desperdiçar.

– Sarah sempre foi bonita, não precisa usar short para mostrar isso. Mas moda dos jovens é moda dos jovens, e nisso eu não me meto. Desde que não apanhe um resfriado, você é quem sabe.

– Vô, a gente vai estar dentro de uma sala, acho que não vai fazer muito frio lá - falei, divertida. Ele apenas encolheu os ombros e veio beijar o meu cabelo, despedindo-se.

– Se cuida, pode ser?

– Claro, vô, tenho feito isso minha vida toda.

– Sim, sim... Boa noite, senhoritas.

– Boa noite, Sr Bayley. Boa noite, Louise! - minha mãe tinha insistido para elas a tratarem pelo primeiro nome. É, elas passavam tempo a mais aqui. Mas a verdade é que elas gostavam de vir e minha mãe e meu avô também. Sim, meu avô. Eu sei, eu sei - como é possível ele aprovar o look de Jane? Bem, o meu avô pode ser conservador, mas ele aprendeu faz muito tempo que não se julga um livro pela capa. E fora as crenças pessoais, a personalidade dele e de Jane são parecidas o suficiente para ele saber apreciá-la. Quanto a Lisa... Bem, quem não adora Lisa? Ela é muito mais reservada que Jane. Não que chegue a ser tímida ou com falta de personalidade. Acredite, ela tem personalidade. Apenas é mais calma.

E lá fomos as três em direção ao auditório, que ficava a apenas algumas ruas de distância. Mas isso é Franklin - o que não fica a apenas algumas ruas de distância? Chegamos lá em menos de 20 minutos, mas não entramos pela porta principal - e ainda bem, porque a fila já era grande! Nós íamos passar pelos bastidores primeiro de qualquer jeito: não havia maneira de eles subirem para aquele palco sem nos aturarem uma vez mais que fosse.

Entramos pela porta dos fundos e demos de caras com um homem enorme. Foi aí que eu percebi que o negócio era sério. Quer dizer, que banda de garagem tem segurança nos shows? Enfim, mostramos os bilhetes e os passes para o cara e logo ele desfez a careta de mau e nos abriu uma outra porta com um sorriso.

– MENINAS!

Hayley saltou do sofá de braços bem esticados para o alto e veio nos abraçar.

– Você deveria estar gritando, Hayles? - ela me olhou pensativa por um momento. Depois apenas encolheu os ombros.

– Vamos chamar isso de aquecimento.

– Cara, você está linda! - falou Jane, com razão. Hayley estava usando uma camiseta dos Ramones roxa avermelhada que combinava na perfeição com seus cabelos cor de fogo. Mas a maquiagem é que completava o look. Quem diria que veríamos Hayley Maria-Rapaz Williams numa camiseta apertada na cintura e delineador de olhos? Não que eu pudesse falar. O que, claro, não passou despercebido aos olhos dela. Mas quem se importa? A verdade é essa: todos ali estavam mudando.

Logo apareceram os meninos na sala. Todos brincavam e riam feitos crianças, tentando se distrair do que estava prestes a acontecer.

– Olha se não são nossos meninos favoritos! - Jane abriu os braços para eles.

– Olha se não são nossas maiores fãs! - Jeremy correu para ela e os outros três seguiram-no. Taylor veio na minha direção com sua camisa preta, calças apertadas e os caracóis meio selvagens e me abraçou. Eu sentia perfeitamente a tensão dentro dele, e ela passou para mim como corrente elétrica. Claro que na altura eu disse para mim mesma que estava apenas me sentindo nervosa por ele.

Ficamos lá na sala com eles apenas mais um pouco. Logo era hora deles se prepararem e fazerem o seu "ritual" - o que quer dizer que era hora da gente ir para a plateia. Demos uma volta que pareceu enorme - ou se calhar era a ansiedade, não sei bem -, mas finalmente chegamos aos nossos lugares. Acabei sentada ao lado de Marie, a mãe do Taylor (as famílias de todos, menos os Farro, estavam lá na primeira fila), que estava com Peter e Justin. Sim, Marie e Peter. É, eu também não vou lá poucas vezes... Ficamos falando por um bom tempo ainda.

Isso, até tudo ficar escuro. Nos calamos de imediato e pregamos os olhos no palco, tentando distinguir as sombras naquele escuro. Mas não foi preciso, porque assim que a bateria do Zac começou a soar com o ritmo de Pressure, logo um holofote focou nele. A seguir entrou Jeremy, com direito ao seu holofote também. O mesmo aconteceu com os dois lindos guitarristas, até entrar Hayley e acender o palco todo. Nessa altura, eu e as meninas já pulávamos loucamente, e - para nossa grande surpresa - também Marie. Peter simplesmente gritava e assobiava, junto com Justin; Christie, do lado de Lisa, tentava chorar discretamente; enquanto Kate, a mãe de Jeremy, seguia o nosso exemplo. Eu escutava algumas palmas e até assobios do resto do público, então me arrisquei a olhar para trás. Muita gente estava já de pé, com um sorriso no rosto. Alguns balançavam já a cabeça ao som da música.

– Vamos mostrar como se faz isso - sussurrou Jane ao meu ouvido, piscando depois para Lisa. Sorrimos umas para as outras, enquanto esperávamos o refrão chegar.


Cause I fear I might break, I fear I can't take it.
Tonight I'll lie awake, feeling empty.
I can fe--
(Porque eu temo que vá quebrar, temo que não consiga aguentar.
Essa noite ficarei acordado, sentindo-me vazio.
Eu posso sent--)


Nossas cabeças se abaixaram rapidamente, em sincronia com a batida de Zac, num pequeno (e note a ironia) movimento chamado headbanging. Sentimos olhares em cima de nós: uns provavelmente pensando em imitar, outros com toda a certeza nos achando loucas. Oh, mas nós não pararíamos!


--the pressure, it's getting closer now!
We're better off without you!
(--a pressão, está mais perto agora!
Estamos melhor sem você!)


Só abrandamos quando Hayley começou a cantar o verso de novo, mas retomamos nosso headbanging em todos os refrões, fazendo companhia aos nossos amigos. Eles estavam em perfeita sincronia em cima daquele palco, mais até do que alguma vez eu tinha visto. De qualquer jeito, foi o momento perfeito para se unirem. Era tudo ou nada, e eles estavam dando tudo. Já nós as três, fazíamos o mesmo, só para os encorajarmos.

Depois de tocarem Brighter, Swim In Silence, Emergency e Oh Star, já tinha perdido a conta de quantas vezes nossos olhares se cruzaram e sorrimos. Eles não estavam mais nervosos - provavelmente porque se tinham esquecido. Acho que estando em cima dum palco a atuar, não dá para lembrar de muito para além do público e da música que estamos tocando - não como uma tarefa a fazer, mas porque isso foi o que você sempre sonhou. A gente podia até ver o brilho nos olhos deles.

– Boa noite, Franklin! - Hayley tirou uma pausa para falar um pouco com o público, afinal eles já estavam pulando fazia uma boa meia hora e só puderam acalmar um pouco com Oh Star - E aí, o que vocês estão achando? Estão-se divertindo? Estão gostando? - a plateia aplaudiu fortemente e ouviram-se vários assobios, o que fez nossos músicos rir - Digam: vocês acham que... Que a gente toca bem? Que a gente faz boa música? Que a gente é boa? - novo aplauso - Vocês acham... que a gente deveria ter um contrato? - aí eu gritei mais do que já gritei em toda a minha vida, o que me impediu de escutar o resto do público. Se bem que pelo jeito do Taylor me olhar e rir, eu tinha sobressaído - Vocês gostariam de ouvir músicas nossas gravadas em estúdio? Vocês comprariam o nosso álbum? Certo, certo... Então vocês sabem o que têm a fazer. O quê, não sabem?! É muito simples! Quando a gente pular - e ela começou a pular, exemplificando - vocês pulam conosco. Quando eu bater palmas, vocês batem também. Quando a gente fizer headbanging, vocês fazem junto. Quando eu cantar... - ela fez uma escala simples para terminar com seus exemplos, que o público se apressou a imitar, como tinha feito até aí. Ela deu um sorriso bobo e nem terminou a frase. – Bem, e no caso de vocês não saberem, se preparem, meus amigos, eu vou dizer: WE ARE PARAMOOOOORRRREEEEE!!!

Toda mundo berrou, pulou e bateu palmas com Hayley. Zac começou então com outro dos seus ritmos energéticos e, como Hayley tinha ensinado, todo o mundo começou a fazer headbanging com eles. Entraram as guitarras e o baixo com sua introdução e só então Hayley começou:

"And here we go again..."

E lá fomos nós de novo.

Eu ficava cada vez mais impressionada com eles - o ritmo e a energia de Zac, a diversão de Jeremy, o rock da guitarra de Josh (já para não falar daquele screamo, que só apareceu mais tarde, mas que mais que merece que eu fale dele), o talento na voz da Hayley, o jeito de Taylor ficar tão absorvido no que toca, que a gente pode até tocar a felicidade dele. Isso tudo para não falar do inacreditável headbanging, claro. E sim, eu já os vi muitas vezes a tocar, mas nunca os vi a tocar à frente de 200 pessoas. Mas deixa eu falar: eles se safam! Bem, na verdade eles não se safam, eles dão show. Desculpe lá o trocadilho, mas é a maior verdade. Escute o que eu digo: um dia vai ter gente falando que eles são a melhor banda do mundo. Gente além de mim, é claro.

Depois de Here We Go Again, eles tocaram Never Let This Go, Conspiracy, Hello Hello e Another Day. E então começou a tocar a introdução que se tornou na minha preferida - e olhe que ultrapassar My Heart não é fácil, essa música consegue mexer muito com você. Mas a verdade é que ontem à noite não pude deixar de entender as palavras que Hayley cantava de uma forma... nova, talvez. Ou eu simplesmente não quis admitir antes.


I don't mean to run, but everytime you come around I feel more alive than ever.
And I guess it's too much. Maybe we're too young and I don't even know what's real...
But I know I've never wanted anything so bad...
I've never wanted anyone so bad!
(Eu não quero correr, mas sempre que você está perto eu me sinto mais vivo que nunca.
E acho que é demasiado. Talvez sejemos demasiado noovos e eu nem saiba o que é real...
Mas sei que nunca quis tanto algo...
Eu nunca quis tanto ninguém!)

If I let you love me, be the one adored, would you go all the way
and be the one I'm looking for?
If I let you love me, be the one adored, would you go all the way
and be the one I'm looking for?
(Se eu te deixar me amar, ser o meu adorado, você iria até ao fim
e seria aquele que eu procuro?
Se eu te deixar me amar, ser o meu adorado, você iria até ao fim
e seria aquele que eu procuro?)


Eu não tenho culpa que não tenha conseguido tirar os olhos de Taylor aí, tá bom? Eu só... o jeito que ele toca é tão lindo de se ver - e eu sei apreciar isso, eu sou guitarrista, lembra? E com aquela bendita música tocando, e ele sorrindo para mim sempre que levantava os olhos da guitarra... Eu queria acreditar que foi efeito das emoções todas da noite, mas eu sei que não foi. Para falar verdade, eu já ando nas nuvens faz muito tempo.


Help me come back down, I'm high above the clouds.
You know I'm suffocating, but I blame this town.
Why do I deny the things that burn inside?
Down deep, I'm barely breathing, you just see a smile.
(Ajude-me a descer, estou mais alta que as nuvens.
Você sabe que eu estou sufocando, mas eu culpo essa cidade.
Porque eu nego as coisas que queimam dentro?
Lá no fundo, eu quase não respiro, você apenas vê um sorriso.)

E aí eu entendi que o que minha amiga cantava era o que sempre senti. "Porque é que eu nego as coisas que queimam dentro? Lá no fundo, quase não respiro, você só vê um sorriso." E isso vale para as coisas boas e para as más. Aliás, eu nem sei se isso é bom ou é mau... "I guess it's too much".

And I don't wanna let this go... Really I just want to know...
If I let you love me, be the one adored, would you go all the way
and be the one I'm looking for?
If I let you love me, be the one adored, would you go all the way
and be the one I'm looking for?
(E eu não quero deixar isso ir... Eu só quero saber...
Se eu te deixar me amar, ser o meu adorado, você iria até ao fim
e seria aquele que eu procuro?
Se eu te deixar me amar, ser o meu adorado, você iria até ao fim
e seria aquele que eu procuro?)


O fim da música me fez acordar e reparar no infeliz fato de que tinha passado uma música inteira colando no Taylor com cara de boba... Mas agora estava começando a My Heart, o que significava que minha cara não ia ficar muito melhor. Na verdade, ficou sim muito mais vermelha e molhada. Eu não consigo simplesmente escutar My Heart e não sentir nada. É que... não é que eu tenha alguma vez desistido de Deus, pelo menos lá no fundo. Mas... eu não tive uma vida muito fácil. Porque você acha que eu nunca falo no meu pai? Isso é porque eu não vejo o cara faz uns 7 anos. Mas tudo bem, ele manda postais quando a culpa aperta demais. Pelo menos que isso faça alguém sentir-se melhor... E já tive que aturar outras sacanagens de meninas metidas a Miss Universo. Ou então sou simplesmente solitária, sei lá.

Bem, sou, não. Porque não é mais assim. As coisas mudaram para mim - aliás, mudam cada vez mais todos os dias. O mundo que eu conhecia... ele está diferente. Quer dizer, ontem à noite saí de casa e fui ver o show de meus amigos rockeiros com minhas outras duas amigas, vestindo um short (quase) aprovado por meu avô. Ah, e isso para não falar do menino insanamente lindo que toca guitarra que nem um deus, e de quem eu sou parceira de mesa e uma das melhores amigas. Alguma vez isso teria acontecido a três meses atrás? Só para o caso de você estar com dúvidas: nunca. E todas essas coincidências, a forma como as coisas acabaram por encaixar... é difícil demais acreditar que é somente acaso. Quer que eu fale? Isso é obra de Deus. Senão, como o único aluno entre mim e Taylor iria anular a matrícula e a gente iria acabar na mesma mesa? Acho que o que eu quero dizer é isso:

I am finding out that maybe I was wrong.
That I've fallen down and I can't do this alone.
Stay with me. This is what I need, please.
Sing us a song and we'll sing it back to you.
We could sing our own, but what would it be without you?
(Eu estou descobrindo que talvez estivesse errado.
Que eu caí e não consigo fazer isso sozinho.
Fica comigo. Isso é o que eu preciso, por favor.
Cante-nos uma música e nós canta-la-emos de volta.
Poderíamos cantar a nossa própria, mas o que seria isso sem você?)

Agora você entende porque eu choro? Se a música diz tudo o que eu sempre pensei, sempre senti, sempre procurei e nunca achei... Se essa música me faz sentir compreendida e, acima de tudo, me traz esperança, como eu não vou chorar? Isso é um hino a Deus e esses três meses me mudaram o suficiente para saber entendê-lo e cantá-lo. E nada disso teria acontecido sem a Paramore. Se não fossem eles... eu não sei onde eu estaria hoje. Daí, eu choro, porque eu sei que ainda há coisas mal, mas que talvez elas mudem no futuro, que talvez eu consiga...

Talvez eu consiga ficar bem. Só isso.

Mas eu fiquei explicando porque eu não levei você ao show, querido diário. Se eu levasse, eu não precisaria explicar. Foi só olhar à minha volta: no fim de My Heart, já todos choravam muito pior que Christie no início da noite. Por orgulho ou por emoção, a verdade é que havia razões para ambas as coisas: entre o talento dos meninos, a voz de Hayley e o screamo de Josh, ninguém ficava indiferente. Não se tivesse um coração. Foi sobretudo por isso que eles mereceram não um aplauso, mas uma verdadeira ovação de vários minutos no final da música. Houve gente que se pôs em cima da cadeira para eles! Eu queria gritar, queria pular, mas não conseguia fazer nada, porque só conseguia chorar. É isso o que eles fazem comigo, acha legal?

Enfim, eles agradeceram várias vezes, e passados os primeiros minutos de aplauso, ficaram meio sem graça. Hayley decidiu interromper, antes que pensassem que já tudo tinha terminado. Tinha sido um final inacreditável, sim, mas eles tinham uma última música: Whoa. Ela foi perfeita para terminar o show.


I've hoped for change and it gets better everyday.
I've hoped for change, but still I feel the same.
There's something wrong, cause everybody knows
that we can do this on our own...
And we've got everybody singing:
Whoa, whoa! Whoa, whoa!
We've got everybody singing:
Whoa, whoa! Whoa, whoa!
(Eu desejei a mudança e melhora todos os dias.
Eu desejei a mudança, mas ainda me sinto o mesmo.
Há algo errado, porque todos sabem
que não conseguimos fazer isso sozinhos...
E pusemos todos cantando:
Whoa, whoa! Whoa, whoa!)

E a verdade é que eles tinham posto todo o mundo a cantar com eles! Não havia ninguém naquele auditório que não tivesse cantado "WHOA!" junto com Hayley. Quer dizer, houve um momento muito pequenino em que eu suspeitei que as paredes estavam para ceder, mas felizmente isso foi mesmo no final. Nem falo do chão, porque esse já estava tremendo desde a metade do show. Acho que aquele auditório não foi feito para shows de rock... Ou para qualquer show em que as pessoas batam tantas palmas, na verdade.

– Agora somos FAMÍLIA, FRANKLIN! Muito obrigada! - e Hayley não pôde falar mais nada, porque nem o som do microfone se ouvia muito bem por cima daquela nova ovação em cima das cadeiras. Vi um homem correr e subir ao palco, antes que eles se atrevessem a sair. Aí, todo o mundo ficou mais quieto, curioso por ver o que iria acontecer. O homem pegou o microfone de Hayley, cheio de fita adesiva laranja.

– Boa noite! Como a maioria de vocês deve saber, também pelo discurso de Srta Williams, eu sou a razão desse show ter existido. Eu sou Simon Lee, agente da gravadora Fueled By Ramen, e esses jovens aí marcaram esse show como uma espécie de audição para mim, porque eles querem ser contratados por nós. Mas... - já toda a gente sustinha a respiração, sobretudo eles, que só não roíam as unhas porque estavam abraçados - eu não sei. O que vocês acham, Franklin? Devo contratá-los?

Foi aí que a gente ouviu um coro muito desencontrado, gritando coisas como "SIM!", "PORQUE VOCÊ TÁ PERGUNTANDO?!", "CLARO!", ou simplesmente o típico assobio. Hayley e Zac choravam sem vergonha, os outros três deixavam uma lágrima escapar apenas de vez em quando. Mas eu sei que os cinco estavam para morrer em cima daquele palco. Eles só queriam saber a resposta e o cara continuava enrolando!

– Bem... Se vocês realmente acham isso... EU CONCORDO! - gritos e palmas soaram pelo lugar, apenas mais uma vez. Ele pediu silêncio e foi pegar a mão de Taylor, que estava na ponta da corrente deles - Senhoras e senhores, apresento à vocês a nova banda sensação da Fueled By Ramen!

Ele levantou a mão de Taylor e todos eles repetiram o gesto, de mãos dadas. Acho que acabaram por fazer vênias até lhes doerem as costas. Minhas mãos e minha garganta também já latejavam, mas eu não ia parar até poder chegar perto deles e abraçá-los um a um. Eles finalmente saíram de palco, acompanhados por Simon. Nós nos apressamos a guiar as famílias deles pelo corredor de onde tínhamos vindo, antes que ficássemos presos no meio daquela multidão. Encontramos de novo o segurança, mas claro que ele ainda se lembrava de nós e dos pais dos meninos - afinal eram eles que estavam pagando o serviço.

Chegamos à mesma sala que antes, onde os cinco falavam com o agente na maior emoção, lágrimas e tudo à mistura. Quando os pais os viram, voaram para eles, falando palavras soltas e frases interrompidas, tal era a alegria. Mas havia ali duas pessoas que não tinham pais para os abraçar, e isso mexeu com eles. Ah, mas não esperamos para ver como eles iam reagir. Pulamos as três em cima dos irmãos, dando um abraço de grupo dos mais apertados, e não demorou muito para sentirmos mais pessoas à nossa volta.

Não sei quanto tempo ficamos assim, sei que no fim estávamos todos de caras, ombros e cabelos úmidos com as nossas próprias lágrimas e com as dos outros. Você pode achar isso exagerado, e talvez um dia daqui a muitos anos eu ache o mesmo, mas ontem não havia mais que a gente pudesse falar ou fazer. Era isso o que nós sentíamos, só aquele aperto de orgulho na garganta e a felicidade no coração. E isso faz uma pessoa chorar. Muito.

Quando já estávamos todos mais recompostos e eles já tinham conversado com Simon e combinado o que era preciso, os pais deles foram para casa e nos deixaram ir sozinhos para a pizzaria na esquina (não sei se mais para celebrar ou mais para comer: acho que ninguém tinha conseguido engolir um jantar decente). O que valeu é que à meia noite de uma terça-feira não há muita gente numa pizzaria de uma cidade pequena - e que a maioria das pessoas naquele auditório tinham ficado cansadas o suficiente para ir direto para casa. Mesmo assim, ainda encontramos umas cinco meninas da nossa idade que pediram autógrafos e uma foto com a banda, o que os impressionou o bastante. Não é todos os dias que isso acontece, certo? Claro que eles aceitaram no mesmo segundo, e logo cada uma se tinha agarrado a um deles. Incluindo a Taylor. A menina passou os braços pela cintura dele e eu só falei a mim mesma para ter calma. Isso era ciúmes de quê mesmo? Não é como se a gente tivesse algo.

Mas elas foram embora assim que tiraram a foto e eu pude ficar descansada. Aliás, pude até me sentar do lado dele na cabine do restaurante, e passar a noite fingindo que não sentia a mesma corrente elétrica de antes de cada vez que a gente se tocava. Só não pude mais foi falar para mim mesma que era apenas nervosismo ou ansiedade - ou talvez fosse, só não por causa do show...

Três meses. Só foram precisos três meses para tudo isso. E apesar disso ser bom por muitos lados, também é assustador. Eu sou muito nova, não tenho noção de algumas coisas... Só sei que nunca gostei de um alguém assim. Paixões? Claro que já tive. Mas um menino com quem eu realmente possa falar de tudo, de quem eu ao menos seja amiga...? Nunca. Por isso é que eu não sei. "Talvez isso seja só amizade e eu é que estou confundindo tudo", me conformo em pensar às vezes. Mas depois ele sorri para mim e eu já não sei nem ao menos no que estava pensando.

Será que se eu me permitir apenas adorá-lo, ele será o que eu procuro, "o tal"?

Why do I deny the things that burn inside?
Down deep, I'm barely breathing, you just see a smile...
If I let you love me, be the one adored, would you go all the way
and be the one I'm looking for?
(Porque eu nego as coisas que queimam dentro?
Lá no fundo, quase não respiro, você apenas vê um sorriso...
Se eu te deixar me amar, ser o meu adorado, você iria até ao fim
E seria aquele que eu procuro?)



Taylor

TEMOS CONTRATO!

Tenho de escrever mais algumas vezes, para ver se acredito.

TEMOS UM CONTRATO!

NÓS, A PARAMORE, FOMOS CONTRATADOS!
CONTRATADOS!

Acabou-se o medo de nos roubarem as músicas, os pequenos shows arranjados por nós, os públicos com menos de 20 pessoas… Depois do show de ontem à noite nos pediram autógrafos e até quiseram tirar uma foto conosco - uma foto. Como se fossem pegar nela, mostrar para os amigos e falar "Vê? Eu falei que conheci a Paramore, não falei?". Como se a gente um dia fosse ser conhecida apenas pelo nome, fosse vender milhões de discos, fosse dar um show no Madison Square Garden, fosse ganhar prêmios... E agora podemos pelo menos sonhar com isso sem nos sentirmos culpados por alimentar esperanças falsas. Porque agora nós vamos gravar um álbum. Deixa eu falar outra vez para você entender: Nós. Vamos. Gravar. Um. ÁLBUM. Sacou? Vai ter música nossa, tipo, gravada em estúdio e dando lucro. Vai ter gente comprando o nosso cd. Err... ou assim a gente espera, né?

Eu falo isso porque o show de ontem foi incrível! Sabe o que é ter gente pulando, cantando e fazendo headbanging com você, quando minutos antes você estava nos bastidores sentindo o coração correndo loucamente? O mais nervoso que já esteve em toda a sua vida, as mãos tremendo ao ponto de você nem conseguir pegar bem na guitarra e aí... Aí o holofote bate em você e você encontra a liberdade em simplesmente tocar o que preparou durante tanto tempo. Mesmo com o medo da reação de todo o mundo, só estar naquele palco fazendo o que eu sempre sonhei... Eu fui muito feliz ontem, cara, muito feliz. E se eu sentisse o medo de novo e os dedos mais trêmulos, bastava olhar para a primeira fila e ver o orgulho naquelas caras: minha mãe, meu pai, meu irmão, minhas amigas, minha Sarah... O jeito era esse: respirar, olhar, sorrir, chorar, e simplesmente tocar.

Tá, eu admito, foi bem tenso. Lógico, né? Entre dar o primeiro show oficial, estar lutando por um contrato, tocar as músicas que nos dizem tanto, e ver tanta gente se divertindo... A gente chorou e não foi pouco. Que fazer? Há momentos em que você só pode fazer isso mesmo. Chorar, abraçar sua família e agradecer a Deus. Afinal, Ele é a causa de eu estar aqui. Senão, como alguma vez uma música nossa iria chegar aos ouvidos de um agente de uma grande gravadora? Aliás, como alguma vez eu teria vindo justo para Franklin e encontrado Zac, Jeremy, Josh e Hayley? Eles foram tudo o que eu precisei na altura em que vim para cá e não estava no melhor dos estados...

E eles fizeram isso de novo, esse ano com Sarah. Lisa e Jane também foram importantes e eu também ajudei, claro - ou pelo menos assim gosto de pensar. Mas o que é certo é que, mais uma vez, Deus nos pôs onde a gente precisava estar. Olhe Sarah: ela nem levantava o rosto para enfrentar a turma, e ontem ela apareceu no auditório de short. Claro que é ótimo para ela, mas a mim não me ajudou muito com os nervos...

A questão é que... pronto, eu vou falar: eu gosto da Sarah. Adoro o riso dela, adoro o jeito de falar dela, adoro os olhares dela, e ontem adorei poder olhar para aquela primeira fila e vê-la lá sentada ao lado da minha mãe, sorrindo, gritando e pulando apenas para nos encorajar. Ela é muito especial, diferente de qualquer outra menina.

Mas, ao mesmo tempo, o que eu posso fazer? Eu nem sei se ela olha para mim assim. E mesmo que olhe... ela precisa de tempo. Acho que ela passou demasiado tempo achando que era uma pessoa e hoje está descobrindo que pode ser muito mais do que isso. Eu não vou ser o imbecil que põe outro rótulo nela justo agora. Vou só dar tempo. O tempo resolve tudo, não é? Senão... bem, Deus a colocou no meu caminho, Deus vai resolver. É só ter fé, né mesmo?


Help me come back down, I'm high above the clouds.
You know I'm suffocating...
If I let you love me, be the one adored, would you go all the way
and be the one I'm looking for?
(Ajude-me a descer, estou muito para além das nuvens.
Você sabe que estou sufocando...
Se eu te deixar me amar, ser o meu adorado, você iria até ao fim
E seria aquele que eu procuro?)

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