Capítulo 13

Novos planos chegando

Sábado, 9 de Janeiro

Taylor

Hoje vamos ter a nova audição com Simon e Ben.

Ligamos para eles logo depois do segundo dia de ensaios com Sarah e Jane. Para quê esperar? Está na cara que elas são o melhor para essa situação. Nem um músico profissional conseguiria encaixar conosco como elas conseguiram em 4 dias. Quer dizer, claro que o som da banda ficou diferente, elas também têm sua visão das músicas e sua criatividade. Não podemos simplesmente obrigá-las a tocar tal e qual Zac e Josh. Mas quer saber? Não ficou pior. Sim, claro, a gente ainda tem muito a acertar, muitos detalhes para rever – e elas em especial têm muito para aprender. Temos umas 15 músicas sérias, sem falar em coisas que ainda estão em composição, covers e músicas tão antigas que quase só tocamos para nós.

Mas eu acho que elas vão conseguir acertar. Pelo menos sei que hoje vão surpreender nossos empresários. Eles não esperam ver algo assim com tão pouco tempo de treino – o que a ligação de Simon apenas provou:

– Mas vocês têm certeza? A gente pode vos dar mais um tempinho, ainda têm três semanas...

– Quer saber, Simon?

– Claro, né!

– Acredite na minha palavra: nós não vamos encontrar ninguém melhor que elas – garantiu Hayley para o agente, fazendo a cara das meninas se iluminar automaticamente.

É que para além de terem talento, elas têm vontade – e isso é muito importante quando você tem que aprender a tocar 15 músicas quase na perfeição num espaço de um mês. Nesses quatro dias, preparamos Pressure, Oh Star, Here We Go Again, Another Day, Adore e My Heart – essa última porque elas insistiram em ter mais hora e meia de ensaio ontem para aprender. Pode chamar de empenho, compromisso, paixão, o que preferir, mas tem que admitir que não íamos achar isso em mais lugar nenhum.

Por isso é que, independentemente do que acontecer, eu não irei duvidar de nossa decisão. Já sei que Sarah vai estar nervosa (Jane também estará, só não deixará tão na cara), mas o que Sarah ainda não percebeu é que atua melhor sob pressão. É sério! Ela pode estar até tremendo, mas garanto que, no momento que ela começa a tocar, o medo de sair mal se dissolve e ela fica apenas com a noção de que tem de tocar bem, enquanto se diverte com a música. Daí que eu não entendo porque ela sempre fica nervosa quando é tão boa. Mas é fofo mesmo, então tudo bem.

O único problema que temos agora é que nem Josh nem Zac puderam vir ainda assistir a um ensaio, nem sequer virão hoje. Quer dizer, não é exatamente um problema, mas eu sinto que só vamos dar esse assunto por terminado e acertado quando eles virem como as coisas vão – aliás, quando eles aprovarem. Eu sei que eles não podem sair sempre, mas podiam conseguir uma tarde enquanto os testes não começam – porque aí sim, é o que não os vemos mais!

Pronto, tá, a gente se vê na escola, mas ultimamente isso também não tem sido tão certo assim. Com Zac sim, mas Josh tem andado com os antigos amigos dele na maior parte das vezes, vai saber porquê. Até entendo que ele não queira se lembrar todo o santo dia que não pode tocar mais conosco, mas bem que ele podia fazer um pouco de esforço. Nós nem falamos de assuntos da banda fora dos ensaios, por respeito a eles e porque nunca foi hábito mesmo. É que antes de sermos uma banda, nós somos amigos e eu costumava achar que isso vinha à frente de qualquer outra coisa.

Ok, estou parecendo dramático demais… É só que aqueles “amigos” de Josh, Jenna e Chad, não são as melhores companhias. Tudo bem, em acredito em segundas chances e tudo… mas isso quando as pessoas provam que merecem. Tudo o que eles conseguiram provar até hoje foi que não mereciam a amizade de Josh, e foi por isso que ele começou a se dar conosco. A partir daí, as coisas melhoraram para ele. Mas quando ele está com esses dois até dá medo, parece um Josh diferente. Parece que nem raciocinar direito ele consegue.

Mas bem, talvez isso fosse antes e agora seja diferente. A realidade mudou para todos nós, isso é fato. E agora não podemos fazer muito mais do que nos ajustar.

Sarah

Yes, yes, yes, yes! E sim, eu estou fazendo a dança da vitória! Problema?

Sabe que mais? Não, não tem problema! Porque eu acabei de conseguir um contrato com meus melhores amigos! Quando você fizer melhor me avise, pode ser?

Tá, eu pareço pior hoje do que na terça, quando entrei para a banda. Melhor dizendo, eu estou pior hoje do que terça. Bem, pior não. Estou melhor porque estou mais feliz e… Whatever, o que importa é que eu estou tão feliz e surtada que acho que conseguia aterrar um avião com sucesso mesmo, por isso não tenho que ficar dando explicações. E além disso, o diário é meu, não é como se alguém fosse ler essa coisa velha daqui a 10 anos. Eu só escrevo aqui porque me ajuda a processar as coisas. Parece que penso melhor por escrito… Estranho, eu sei. Mas Estranha realmente é meu nome do meio, então… Affff, Sarah Estranha Bayley… Tinha de ser bonito, tinha!

Mas idiotices à parte, vamos falar de coisas que importam?

“De quê, cara Sarah?”, você pergunta.

Oras, caro diário, da audição espetacular que eu fui fazer hoje, lembra?

Oh Deus, eu estou falando com o meu diário como se fosse uma pessoa… Começo a achar que há algo realmente errado comigo… Mas bem, a maior parte das pessoas fala assim para o computador, então não deve ser tão raro assim. E como já disse, não é como se alguém fosse ler isso e me internar. Portanto, continuemos. Ou comecemos, nesse caso.

Então… A gente tinha combinado estar lá na gravadora só às 16h, porque Simon tinha outros compromissos. Não é que nenhum deles fosse remotamente tão importante quanto escutar a futura banda do momento em formação, mas a gente, humilde como sempre, não se importou (e eu nem estou diva nem nada…). Mas como não somos assim tão peritos como gostaríamos de ser, até deu jeito, porque ainda pudemos nos juntar em casa da Hayley para aquecer um pouco e acalmar os nervos.

– Hey – Taylor falou calmamente enquanto eu fechava a porta de casa e lhe dava um beijo na bochecha. Tá… Os nervos eram quase só meus. E isso me incomodava um pouquinho de nada, devo admitir.

– Como consegue ficar tão calmo? – ele apenas riu.

– Sarah, a primeira vez que atuei para Simon foi em frente a 200 outras pessoas. E mesmo assim correu bem, então acho que não tenho muito com que me preocupar dessa vez.

– Sei.

– Além disso - ele continuou, vendo meu desânimo –, vocês são espetaculares e eles vão amar vocês, por isso nem tem com que estressar.

– Tem certeza?

– What? – ele fez uma cara cômica de espanto, levando a mão à frente da boca – Essa conversa de novo, dona Sarah?

– Sim – eu estava amuando cada vez mais. Ele apenas revirou os olhos.

– Pensei que você já tivesse entendido que é boa. Nunca vi ninguém acertando com o dedilhado de Oh Star ou com o ritmo de Pressure em duas horas, por isso alguma coisa você vale, dona Sarah.

– Pode parar com o dona, tá?

– Quando você parar com o pensamento de velha eu também paro, meu amor – ele deu o seu sorriso mais fofo, enquanto eu fingia que não me estava derretendo por dentro, e só revirei os olhos, enquanto rezei para que a velocidade do vento disfarçasse o vermelho da minha cara.

– Vai dar trabalho lidar com você.

– Isso é o que você fala, eu sei que por dentro é diferente.

– Convencido pouco também, não é mesmo?

– Eu? Convencido? – a cara cômica de chocado voltou e eu tive que rir. – Oras, só sei o que valho! Deveria aprender comigo, Sarinha.

Bati devagar no braço dele, enquanto ria. Desisti de dar uma resposta inteligente quando notei que já estávamos chegando à porta de Hayley. Tocamos. Nem um minuto tinha passado, e já uma cabeça cor de fogo estava barafustando sobre o quão atrasados tínhamos chegado e que eles os três nos estiveram esperando “horas”. Desculpem-me por desfazer vossos sonhos, futuros fãs, mas não, nem Hayley está bem-disposta o tempo todo.

– Um “oi” também é uma saudação agradável, Hayles – Taylor brincou com ela, esperando que a acalmasse um pouco. E deu certo, ela o encarou uns dois segundos e depois já estava rindo e fazendo piada de volta. Entendi aí como eles se conhecem bem.

– Desculpem. Oi, como estão vocês e vossas avozinhas?

– A minha está no Canadá, obrigado por lembrar.

– Bem… a minha está morta, então acho que eu ganho – falei, meio que entrando também na brincadeira, mas Hayles e Taylor apenas puseram a maior expressão de arrependimento no rosto.

– Foi mal, desculpe.

– Nada não! Já foi há algum tempo, tudo bem.

– Sério?

– Aham.

Mas nossa conversa terapêutica foi interrompida por um Jeremy e uma Jane entrando aos pulos no hall. Em várias coisas eles são muito parecidos. Uma delas é sempre parecer ter energia armazenada. Bem, menos nas aulas de química. Mas quem os culpa mesmo?

– Como vocês estão?

– Estão prontos para arrebentar os tímpanos daqueles engravatados? – eles falaram um por cima do outro, mas todo o mundo encarou Jane depois dessa última pergunta. Ligeiramente assustadora, é…

– Por acaso eles não são engravatados, os dois andam pelo escritório de camisa, acredita?

– Sério?

– Aham! – Jeremy facilmente quebrou o silêncio e eles entraram numa conversa quase paralela sobre a informalidade de Ben e Simon. Como eu falei, eles são parecidos em tantas coisas que às vezes parecem entender-se de uma forma muito estranha... E se te dá medo pensar neles dois juntos, então você está pensando certo.

– Gente! – Hayley interrompeu com um pequeno grito. – Temos um aquecimento para fazer, lembram?

Depois dos nossos ouvidos recuperarem, fomos para a garagem e colocamos mãos à obra. Uma coisa eu e Jane respeitamos desde o momento em que entramos na banda: a hora do trabalho. É vital que haja esse tipo de profissionalidade nesses momentos, senão pode apostar que a banda não vai a lado nenhum. Já era um hábito da antiga Paramore e nós é que não iríamos perturbar.

Daí que a próxima hora tenha passado depressa, entre revisões e correções de última hora. Depressa demos por nós arrumando tudo e correndo para a mini-van de Joey, o pai da Hayley, que nos iria levar até à gravadora. Acho que não é preciso eu falar que tínhamos que ir a Nashville para isso, não é mesmo? Quando a gente fala que Franklin é uma cidade pequena não estamos brincando.

Mas bem, rapidamente chegamos e nos dirigimos para uma sala de espera muito bem decorada – aliás, como o resto do edifício. Eles devem faturar muito, devem… Esse pensamento, claro, só serviu para aumentar meu nervosismo. Mas tudo bem, não era nada que eu não aguentasse. Ia tocar com meus amigos, que realmente acreditam que eu sou boa. E se eles acreditam, porque eu não acreditaria também?

E foi assim que passei o tempo de espera, meditando sobre aspetos importantes da vida. Salas de espera têm um bocado esse efeito, não é? Talvez seja porque você já está nervoso que chegue quando lá entra e aí ainda tem que esperar o que parece uma eternidade junto a uma recepcionista demasiado educada e calma. Pronto, quando você vai ao dentista não é bem assim, mas não queira comparar, tá bom? Eu estava prestes a fazer a diferença entre os meus amigos conseguirem um contrato ou não. Dói mais que ir tratar uma cárie, acredite.

Mas depois da meia hora mais comprida da minha vida, a recepcionista educada finalmente nos mandou entrar. Nós obedecemos e logo demos de cara com Simon. Ainda me lembrava dele do show e acredite, ele se arranja mais para ir num show de uma banda desconhecida do que para ir trabalhar. Por acaso, isso até foi um bocado reconfortante, devo admitir. Dá uma sensação de proximidade.

– GENTE! – ok. Não era apenas uma sensação, pelos vistos. Eu só consegui rir do homem que eu pensava ser sério – o que devo dizer que só me acalmou! E ele foi bastante simpático e humilde, por isso, quando ele me veio cumprimentar, eu já estava no topo do mundo novamente. Com certeza iria ter dificuldades maiores do que tocar para Simon Lee – Então essa é que é a carne fresca! Me parece bom.

Todos rimos com a diferença de tom de suas duas frases. Depois, conversamos sobre alguns detalhes até chegar Ben Murray, o vice-diretor da gravadora. Outro cara folgado e humilde para juntar à coleção. Estou gostando dessa empresa! Enfim, nos apresentamos a ele também e logo estávamos tocando para ambos.

Começamos com Oh Star e eu acho que vi os olhos deles brilhando (não me estou gabando nem nada, ok?). Eles aplaudiram no final, mas pediram para a gente continuar. Tocamos ainda Pressure, Here We Go Again e terminamos com My Heart. Para uma música que foi ensaiada no dia anterior, tenho que admitir que saiu muito bem! Simon e Ben também parecem ter gostado… Tá, parecem não. Eles assobiaram ali no finalzinho enquanto aplaudiam de novo, é tudo o que eu posso adiantar (e não é que eu estou virando uma diva mesmo?). Mas de verdade, correu bem melhor do que eu esperava – até melhor que no aquecimento!

Mas eu ainda não contei a parte mais importante. Prepare-se… Eles vão nos mandar os contratos e os papéis pelo correio para a gente assinar e assim, e…

8 DE FEVEREIRO A GENTE JÁ ESTÁ A GRAVAR!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Agora entendeu porque eu estou tão histérica desde lá de cima, não foi? Tem sempre uma razão para tudo, meu querido. Hahaha, enfim… eu estou louca mesmo, mas… eu entrei para a banda há 4 dias, hoje consegui um contrato e daqui a um mês estou a gravar. Quer melhor? Eu é que não!

Claro que ainda temos que trabalhar um bom bocado até estarmos prontos para gravar... mas vai valer tanto a pena! Tenho certeza que vai ser uma experiência incrível! Já para não falar que, se tudo correr bem, vamos em turnê no verão!!! Não conte para ninguém ainda, é segredo. Quer dizer, não deve ser tão segredo assim, para promover um álbum você tem que ir em turnê, lógico. Mas eu vou dar um tempinho até começar a falar disso. Já vai ser estranho o suficiente para o meu avô eu estar todas as tardes fora de casa, quanto mais se eu começar a falar que vou estar fora durante um mês – tempo esse que eu vou viver em um ônibus com dois meninos. É, boa sorte com essa explicação! Pronto, estou exagerando… se eu mostrar o quanto estou entusiasmada e o quanto eu quero isso, tenho certeza que terei a permissão que quiser. Meu avô pode ser duro, mas ele me ama e me quer ver feliz.

E se a Paramore conseguir isso, acredite que eu vou ser feliz para o resto da vida.