Capítulo 20

Just for now...



POV Hayley

Apertei meu passo em direção à porta para o exterior. Afinal, se Sarah estava tão perturbada quanto parecia estar, só a acharia em um lugar. Semicerrei os olhos quando a intensidade da luz solar encoberta os atingiu, mas não deixei que isso me abrandasse. Passados poucos segundos, já estava coberta pelas árvores e o som de uma respiração desregulada logo denunciou o paradeiro de uma Sarah bem diferente do que eu costumava ver. Seus olhos estavam vermelhos e suas mãos tremiam, enquanto se apressavam em guardar algo dentro de sua mochila.

– Sarah… Então?

– Então o quê, Hayley?

Sentei do seu lado.

– Não tem necessidade de ficar assim – ela me fitou durante alguns segundos, incrédula.

– Não tem?! Hayley, você sabe as coisas que ela me chamou!

– Eu sei, Sarah. Mas você foi forte o suficiente para ignorá-las na altura. Porque não é mais agora?

– Porque… - novas lágrimas correram o caminho que outras já tinham traçado em seu rosto – Porque foi ele quem falou para eu ignorar.

Ela começou a soluçar e eu a abracei um pouquinho, até ela acalmar. Não era algo que eu estivesse acostumada a fazer com meus amigos – até porque eles costumavam ser meninos –, mas com Sarah já se tinha tornado natural. Me sentia protetora com ela, como se fosse uma de minhas irmãs mais novas.

– Sarah, por favor, admita uma coisa importante.

– O quê? – ela perguntou, meio receosa, limpando a cara com um lenço de papel.

– O que você acha?

– Você quer dizer… - ela viu tudo em meu olhar e, pelo seu, eu sabia que ela havia entendido também. Acenei afirmativamente, sorrindo de canto para lhe passar confiança. – Oh.

– O que foi, não confia em mim?

Ela revirou os olhos e suspirou.

– Claro, né.

– Então me diga: qual é o verdadeiro motivo para você estar assim?

– Eu… eu gosto dele – ela murmurou tão baixo que eu só entendi por já estar esperando essas mesmas palavras.

– Você o quê?

– Eu gosto dele, ok? Não precisa falar que é idiotice minha. Eu já sei.

– Idiotice sua?! Idiotice sua é você estar assim por ciúmes de um garoto que também gosta de você.

Ela voltou a fitar-me, também incrédula, mas dessa vez mais desconfiada que chocada.

– Ora, repita isso de novo.

– Ele também gosta de você.

Ela abriu um pequeníssimo sorriso.

–Ele… ele falou isso?

– Por favor, Sarah. Eu conheço Taylor há 2 anos!... E ok, isso não é tão impressionante quanto eu pensei que fosse – ambas rimos. – Mas eu o conheci bastante nesse tempo. E nunca na vida pensei que fosse vê-lo olhar para alguém do jeito que ele olha para você. Pelo menos não tão cedo.

– Mas se… se isso é verdade, porque ele nunca me disse nada?

– Isso eu não sei. Terá que ganhar coragem e perguntar para ele mesmo.

Ela mordeu o lábio inferior e pensou uns momentos. Vi algo nela quebrar de novo e entendi que tão cedo ela não perguntaria. Ah, mas eles acabarão juntos! Nem que eu tenha que virar macumbeira! Pelo menos alguém que se ajeite nesse mundo… Tirando Zac e Lisa, que foram uns lindos e não deram trabalho algum. Isso sim, é que é um casal modelo! Aliás, estou para ver nascer o dia em que eles terão uma discussão real. Se bem que, com tudo o que tem acontecido, é melhor não falar antes do tempo mesmo. Teria dito o mesmo sobre Sarah e Taylor ontem. E bem… nem falarei do meu caso, porque é deprimente demais.

– Hayley, me diga a verdade – acordei de meus pensamentos com a voz de Sarah, que pelo olhar ainda meio desfocado, tinha ficado que nem eu. – Acha que eu estou sendo injusta?

– Hmm… Não vou falar que não te entendo, Sarinha. Mas… Eu conheço Taylor. Ele não iria defender Mariah junto de você se não estivesse realmente convencido de que ela mudou.

– E se for apenas isso mesmo? E se ela não tiver mudado realmente?

– E aí o que tem? Você tem medo de quê? – ela mordeu o lábio de novo, receosa.

– Tenho medo que isso seja um plano dela.

– Ué, porquê?

– Ficou claro desde o início do ano que ela gosta dele, Hayles.

– E você sente-se ameaçada, é? – ela revirou os olhos com meu comentário.

– Não é isso.

– Na verdade, é – ela me olhou fortemente, quase dizendo “chega”. Mas eu sabia que estava certa.

– “Na verdade”, eu apenas tenho medo que Taylor caia nesse plano e depois se machuque.

– Hmm, sei. Então se é esse seu medo, pode deixar. Taylor é crescidinho, ele sabe se virar.

– Você sabe que isso não me acalmou nada, né?

– Isso porque você gosta dele – arrisquei, recebendo outro olhar letal. Mas ela tinha que se convencer que essa era a verdade.

– Não é por isso! Vai dizer que você não está preocupada com ele?

– Nem por isso. Taylor e Mariah não são propriamente almas gêmeas, nem se irão tornar grandes amigos. Ele apenas a irá ajudar a se recompor. Mas não creio que eles fiquem com uma amizade forte depois disso. Além disso, ela só gosta dele agora porque ele é um “rockstar” – fiz aspas com os dedos –, mas se não fosse isso, ela nem sequer o olharia nos olhos. E na verdade, não creio que Taylor a valorize tanto assim para ficar abatido caso ela volte ao normal. Talvez fique apenas frustrado.

Sarah suspirou e assentiu lentamente.

– Então eu não tenho porque estar preocupada?

– Acho que não.

– Certo, vou tentar me convencer disso – ambas demos um pequeno sorriso.

– Por favor. E sabe, eu acho que você até poderia ajudar Taylor com essa pequena… “missão” – ela levantou ambas as sobrancelhas ironicamente. – Ué, não me olhe assim! Estou falando sério!

– E o que você acha que eu poderia fazer?

– Bem, você é melhor em Matemática que ele…

– E Lisa é melhor que nós dois – suspirei.

– Certo. Mas talvez se você ajudasse Mariah num momento difícil, ela se lembrasse disso noutros momentos melhores.

– Comprar a pena de Mariah? Não, obrigada!

– Não é isso, Sarah. Por favor, tente entender! – ela suspirou pesadamente e me olhou, acabando por me encorajar – É que isso faria Mariah ver que o altruísmo é algo possível. E ela se sentiria mal depois por… bem, por qualquer pessoa que ela se lembrasse de xingar.

– Hmm… Acho que entendo. Não sei, terei que pensar nisso.

– Se você pensar nisso, já não estamos mal – dei um sorriso e ela me acompanhou.

– Me diga, Hayles: quando você ficou tão sábia? – ri alto.

– A culpa é toda de Taylor, eu juro!

– Ah, entendo. É apenas o de sempre – ela comentou com um novo sorriso e com outro brilho nos olhos. Até pensei em brincar de novo com isso, mas também não a queria chatear. A conversa em si não tinha sido fácil, mas suponho que não tenha sido fácil para ela naquele dia também…

Nossa amizade é tão recente e já nos ajudou tanto, que eu fico pensando como é possível. Mas também sei que não sou a única pensando isso de Sarah.

Não consigo evitar um último sorriso quando penso que, apesar de tudo o que vem acontecendo comigo ultimamente, jamais eu conseguiria deixar de ficar feliz por eles.


Sexta-feira, 5 de Fevereiro
Sarah

Eu estou… bem, eu nem sei como estou. Confusa. Sim, confusa é a palavra certa.

Depois de minha entrada ontem, talvez seja de pensar que eu esteja bem mal. Mas quem estava chegando quando parei de escrever não era Taylor, como eu esperava, e sim Hayley. Nós ficamos falando e, no final, ela conseguiu convencer-me que a errada era eu – o que não estava fácil, até ela se lembrar de dizer que… Taylor gosta de mim. Faltou só sair o sol detrás das nuvens e eu ficar pulando atrás de borboletas, né?

Na verdade, não. Quer dizer, sim, eu fiquei bem feliz, mas Hayley disse isso com base numa suposição. Por mais que ela o conheça, Taylor não é fácil de entender. Ele consegue ser simpático com todo o mundo, mas isso não significa que goste de todo o mundo da mesma forma. Daí que ele ser mais ou menos simpático comigo pode apenas querer dizer… bem, nada.

E ir achá-lo depois, na aula da tarde, falando com Mariah de novo apenas serviu para desacreditar a opinião mais um pouco. Acabei por pedir ao professor para ficar sentada no lugar da parceira de mesa de Jane, Ivory, e ignorar Taylor até agora, a manhã do dia seguinte. Vim escrever porque estive toda a noite remoendo os mesmos pensamentos, as mesmas palavras, sem conseguir encontrar uma explicação que fizesse completo sentido para mim. Conclui que não acho que ele goste realmente de Mariah, mas também não consigo conceber que seja isso o que ele sente por mim. Mesmo assim, não vou descartar a hipótese de Hayley já. Principalmente porque eu gosto de pensar nela.

De qualquer jeito, entendi que estive errada ontem em reagir de forma tão explosiva, mas simplesmente não consegui evitar. Para ser sincera, me senti inferior. E tendo acreditado – depois de conhecer essa gente maluca que eu chamo hoje de amigos – que não tinha necessidade de me sentir mais assim, o que aconteceu ontem foi como um balde de água fria. Então eu precisei de um pouco mais de tempo. Mas hoje mesmo – aliás, daqui a pouco mais de meia hora – pedirei desculpas a Taylor por isso. Não como Hayley sugeriu que eu faça (o que envolve um pouco mais de exposição do que aquela que eu sou capaz nesse momento, tipo, sei lá… conjugar o verbo “amar” e “Taylor” na mesma frase e em voz alta), mas do meu jeito.

Depois… o que vier, virá.


Sexta-feira, 5 de Fevereiro
Taylor

Não sei se foi Deus que atendeu a minhas preces, se foi Hayley mesmo – ou até ambos –, mas o importante é que hoje consegui ajeitar as coisas com Sarah. Posso dizer até que no ensaio, no final da tarde, tudo correu dentro do normal, conosco falando e brincando como é nosso costume. Já tínhamos esclarecido as coisas de manhã cedo, quando eu e os restantes nos encontramos com ela para seguir para a escola.

Eu não estava propriamente eu mesmo, e acho que todo o mundo notou isso, porque ficavam falando bobeiras, tentando me animar. Eu dava uns sorrisos, mas não participava na brincadeira como é meu costume. Estava demasiado nervoso, divido entre a culpa e a indignação, e tentava pensar ainda no que fazer quando a encontrasse. Nem mesmo meu rosto estava igual a si mesmo. Descobri minha palidez com a ajuda do espelho, pouco depois de acordar de um sono demasiado leve. Foi a primeira vez que invejei as garotas por poderem colocar apenas um pouco de base. E depois, naquele momento, entre o dedo de Hayley apertar a campainha dos Bayley e Sarah sair, dando ainda um “tchau” para seu avô e sua mãe, meu estômago revirou tanto que achei que meu pequeno-almoço não fosse ter tempo para ser digerido.

Mas ela saiu, dando aquele mesmo “tchau” que eu já esperava, mas sorrindo para nós de um jeito que não era seu – não connosco. Ela estava claramente envergonhada por algo, e os pequenos círculos escuros que rodeavam seus olhos fizeram com que a culpa finalmente vencesse a batalha e me viesse apertar a garganta. Respirei fundo vendo Hayley a abraçar e arrancar dela um sorriso real dessa vez.

Todo o mundo a saudou e seguimos caminho. Ela lançou um sorriso tímido na minha direção, mais parecido com o primeiro. Fui para seu lado e atrasei meu passo, pedindo-lhe silenciosamente para ficarmos para trás, apenas os dois. Quando isso aconteceu, ambos nos esforçamos por fitar nossas All-Star com o maior interesse.

– Sarah-

– Não precisa falar nada, Tay – ela suspirou. – Me desculpe.

Apenas consegui sorrir. Não esperava que ela fosse dar o braço a torcer tão cedo.

– É só que… Bem, eu não sei o que você está pensando, mas… - decidi parar e simplesmente falar o que me imaginei dizendo toda a noite – eu não gosto dela, Sarah.

Claro que o discurso que eu tinha imaginado era bem mais longo, heróico e sentimentalista. Mas essas poucas palavras eram, no fundo, tudo o que eu queria dizer. Pelo menos por ora. E foram também o suficiente para ela parar e deixar seus lábios se entreabrirem suavemente, como se ela quisesse falar algo, mas não conseguisse achar palavras. Desviei minha atenção rapidamente para seus olhos, que me fitavam diretamente pela primeira vez. Como ela continuava sem falar nada, continuei.

– Nunca gostei, nem irei gostar. Aliás, pensei que você me desse mais crédito que isso… – terminei, com um sorriso de canto. Agora a bola estava do lado dela. Senti meu coração dar um baque só de pensar no que aconteceria. No que ela poderia falar.

– Tay, eu… Sério, me desculpe! Eu devia saber que você estava apenas sendo… bem, você – ela sorriu também. Um sorriso bem mais sincero e bonito.

– Bom saber que você tem uma opinião tão alta de mim – eu tentava abrir lugar para ela… sei lá, admitir alguma coisa… Ok, sendo sincero: eu queria que ela admitisse que gostava de mim. Se ela me queria explicar o que tinha acontecido, ela precisaria me contar tudo, certo? Mas as palavras que eu tanto queria ouvir pareciam não vir.

– Você é meu melhor amigo, seu idiota. Claro que tenho uma opinião alta sobre você – suspirei, meio derrotado, mas logo dando lugar a um sorriso que espelhava o dela. Ela estava brincando de novo, isso era ótimo. E a amizade dela era boa demais para eu fingir que não ficava feliz por tê-la. Ainda assim, havia um espacinho em mim que acreditara que ela ia realmente confessar o que os restantes tanto me tinham garantido, no dia anterior, que ela sentia.

Se ela não o fazia, teria suas razões. E eu esperaria.

Tomei essa decisão ainda com o mesmo sorriso na cara, que, apesar de tudo, tirava todo um mundo de cima de meus ombros. Seus olhos e seu sorriso também estavam bem mais iluminados do que quando saíra, apenas há minutos atrás, de sua casa. Me aproximei dela e a puxei contra mim, beijando o topo de sua cabeça. Ela encostou sua face no meu peito e passou os braços em redor de minha cintura, acarinhando minhas costas. Ficamos assim pouco tempo (afinal, ainda tínhamos uma aula para ir assistir), mas foi o suficiente para me fazer sentir mais descansado que todo sono dessa noite. O dia anterior me pareceu apenas uma bobagem, um exagero idiota de ambas as partes, e eu soube que aquele aperto me chegava. Era tudo o que eu precisava.

Pelo menos, por agora.

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