Capítulo 37

Oi meus lindos! Eu sei que demorei muiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiito, errrr... Mas eu voltei!!! Saibam que esse hiatus foi uma mistura de falta de inspiração, de tempo e de... nem sei de que mais. Só não tem dado, meus bens. Mas agora eu acho que me inspirei de novo. Minha mente já está querendo planejar todos os capítulos em diante - e está conseguindo. Então desde que eu tenha algum tempo por dia, é só uma questão de tempo até estar terminando EB. Maaas, isso será daqui a... 10? Menos? Bem, entre 5 e 10 capítulos, eu acho. Frise o "eu acho", porque ainda não está tão bem planejado quanto isso. Mas não desesperem, porque, por menos que seja, ainda muiiiiiiiiiiiita coisa vai acontecer, incluindo, claro, o ponto mais desejado e antecipado da fic (vulgo: agarração entre os principais!), entre outras coisas. Por agora, porém, tem esse capitulozinho daqui - capitulozinho não propriamente, porque bem... ele está grande. Contudo, também parado. Paradérrimo. PORÉM, também legal.

Bem... julgue por si mesmo. Boa leitura!

A time when we were so alive



Música do capítulo: Franklin

POV Josh

Levantei o cesto preguiçosamente para junto do tapete rolante, colocando os itens em cima do mesmo. Um pacote de rolos de papel higiénico, um frasco de ketchup e outro de sal de cozinha, seis latas de atum em conserva, pasta de dentes. Ah, e um pacote de pastilhas elásticas. Tudo o que estava na lista deixada pelo meu pai nessa mesma manhã, tirando as pastilhas elásticas – essas foram um acréscimo meu.

O garoto de cabelo castanho de tamanho médio (ligeiramente mais comprido do que estava o meu, antes de o cortar na primeira semana que passei em Baltimore) por detrás da caixa parecia ter a minha idade. Talvez até andasse na mesma escola que eu. Eu não sabia. Não sabia nada sobre ninguém naquela cidade.

Ele mal dirigiu o olhar para mim. Martelando o teclado à sua frente, ele debitou o preço total das compras numa voz automática, desprovida de qualquer calor humano. Se alguma vez isso me surpreendeu, agora só me cansava. Pensei que se tivesse que aguentar tudo aquilo durante muito mais tempo, aquela voz robotizada e impessoal – que parecia ser popular entre quase todos os habitantes da cidade – iria, com certeza, deixar de ser motivo de cansaço e passar a ser motivo de mágoa. Ressentimento, até.

Digamos apenas que, com cada novo dia que eu passava em Baltimore, mais eu compreendia porque as pessoas nas grandes cidades se sentiam tão sozinhas, ainda que estivessem rodeadas de tantas outras pessoas. Era inacreditável o jeito como ninguém ligava para ninguém e como você poderia morrer – morrer verdadeiramente – e ninguém fazer a mais pequena ideia.

É, meus pensamentos andavam alegres nos últimos tempos. E não, não era apenas por que eu era agora regularmente obrigado, pela força das circunstâncias, a fazer compras, cozinhar meu próprio almoço, lavar a louça ou até pôr adequadamente em funcionamento a máquina de lavar roupa. Não é que eu estivesse habituado a tudo isso antes, mas também não era completamente ignorante no que tocava à lida doméstica, e o que eu já sabia era conhecimento suficiente para ir fazendo o necessário. Os erros me ensinariam o resto.

Não, minha tendência recente para uma ligeira depressão também não se devia a problemas na escola, e muito menos problemas com meu pai. Minha nova escola de ensino médio – mesmo que frequentada por alunos um pouco preconceituosos e patricinhos – não era má de todo. Em termos estruturais, era bem melhor do que a de Franklin. Os professores eram mais qualificados, mais vividos. A oferta de atividades extracurriculares era infindável e certa de agradar a todos, incluindo pessoas integradas em pequenas minorias – como era o caso do meu gosto por punk-rock.

Meu pai, por outro lado, estava sendo o mais agradável comigo que já fora nos meus 17 anos de existência – não obstante eu só o ver cerca de 4 ou 5 horas por dia. Nossas conversas eram animadas e descontraídas, e os fins de semana que tínhamos um com o outro eram passados em caminhadas pelo Patterson Park ou assistindo partidas de basebol ou futebol americano no canal de esportes.

Então, o que me estava deprimindo? Eu estava vivendo minha decisão, não era? Essa vida, fora eu que escolhera – e o mais, eu me sentira bem ao fazê-lo. Me sentira como se me estivesse libertando de algo, desintoxicando de algo. Mas não era mais assim. Poucas semanas nessa cidade e todos os meus julgamentos tinham sido virados de cabeça para baixo. O que eu achava estar correto até aí estava-se mostrando errado e, consequentemente, minhas decisões estavam tendo consequências que eu não antecipara.

Claro que tudo isso também se poderia dever à minha última visita a Franklin. Faziam exatas duas semanas que eu regressara pela segunda vez à minha cidade natal e, apesar de ser a primeira em que eu convivera com meus antigos amigos, eu não pude evitar esquecer de tudo o que tem acontecido ao longo desse ano e simplesmente conviver com eles, num ambiente de honestidade que não partilhávamos há muito tempo. E por quê tudo isso agora?, você pergunta. Bem, porque a vida por vezes nos mostra que certos problemas não são tão graves assim – nem que para isso nos tenha de colocar perante desafios ainda maiores.

Assim, foi há exatas duas semanas que ocorreu o funeral do Sr. Bayley, o avô de Sarah. Como você deve entender, eu debati-me bastante com a questão de comparecer ou não. Porém, eu estava muito mais preocupado com o que achariam da minha presença do que com minha própria vontade. Afinal, eu tinha noção do que tinha acontecido: não se tratava da morte de alguém muito velho e distante (e isso já teria sido doloroso o suficiente), mas sim de um segundo pai para Sarah. Para ser sincero, eu nem tive que pensar duas vezes para decidir se queria ir. Agora, para decidir se deveria ir… essa é outra história – a qual envolveu pedir opiniões de quase todos os meus irmãos e até do meu pai. Depois de muita indecisão, resolvi que teria de, pelo menos, prestar minhas condolências. Com base nisso, avaliaria as reações. Se elas fossem negativas, eu simplesmente me manteria afastado. Mas estaria lá. Isso era o que importava.

Em retrospetiva, as coisas tinham corrido… bem diferentes do que eu esperava. Eu nunca teria antecipado que me sentiria tão mal por ver Sarah naquele estado e, muito menos, que ela me abraçaria assim que me visse. Mas foi isso o que ela fez – para a surpresa de todos, não tenho dúvida. Eu apenas me aproximei, sentindo-me um pouco engasgado pelo nervosismo, e ela lançou os braços ao meu redor, provocando um baque enorme no meu estômago. Nunca me senti tão bem e tão mal ao mesmo tempo na minha vida.

Isso preparou um terreno ameno para o resto do dia. O resto do grupo me tratou não friamente, como eu esperava, mas quase como se eu nunca os tivesse abandonado. E eu não pude evitar fazer o mesmo. A verdade é que, ali, nós não éramos estranhos. A dor e a necessidade tinham destruído nossas muralhas cuidadosamente construídas, exigindo que nos apoiassemos uns nos outros.

Claro que não posso esperar que as coisas sejam sempre assim. Se voltasse hoje para Franklin, tenho a certeza que a reação não seria a mesma. Talvez não tão fria e distante como eu antes esperara, mas com certeza ainda magoada. Porém, aquele momento há duas semanas provou-me algo que eu questionava: poderia a minha amizade com todos voltar ao normal? Até então, eu pensara que isso era impossível – estávamos todos demasiado machucados e a confiança havia se quebrado.

Contudo, vendo como fomos capazes de ultrapassar tudo isso apenas porque necessitávamos uns dos outros, eu confirmei que sempre estivera errado. Eu e eles construímos uma amizade muito mais forte do que eu imaginava, e eu fui idiota em pensar o contrário. Em agir pensando o contrário. E, ao entender isso, a sensação de bem e mal estar simultâneo regressa: é bom saber que há sim espaço a consertar os problemas nessa amizade, porém me custa a ultrapassar os erros que cometi.

Parado naquela rua fria, rodando a chave na porta do prédio, eu entendi que a verdade era simples: eu precisava dos meus antigos amigos. E dessa vez, não era devido à morte de ninguém, mas sim porque meus erros e minhas decisões estavam me afogando numa solidão que só me fazia mal. O que eu procurara ao me mudar de início para Baltimore era uma utopia, e eu estava descobrindo isso da pior maneira.

No fundo, tudo o que eu sentia era saudades de casa.

Suspirei ao sair do elevador, em direção à porta do pequeno apartamento – que eu sabia que jamais consideraria um lar. Recordações de Franklin martelavam na minha cabeça, pedindo, exigindo ser extravasadas de algum jeito – e eu conhecia um único jeito.



POV Jane


Tateei a porta às cegas em busca da maçaneta, fechando-a de seguida. Logo senti meu corpo ser levemente empurrado, minhas costas embatendo na madeira. Até isso sabia bem.

As mãos de Jeremy apertavam a minha cintura com vontade, ora empurrando-me um pouco contra a porta, ora puxando-me mais para ele. “Ele está indeciso”, pensei, achando isso incrivelmente fofo e colocando ainda mais paixão no beijo. Em tempos, talvez eu tivesse achado a exata mesma situação um sinal de fraqueza e largado o garoto na hora. Mas, enquanto a curta barba descuidada dele picava o meu rosto, eu percebi que não conseguia sequer me imaginar fazendo isso. Eu estava gostando demais.

E talvez fosse essa a razão pela qual minhas mãos se passeavam facilmente por seu peito, demorando-se mais aqui e ali, quando nosso beijo urgente exigia minha total atenção. A verdade é que eu não só estava gostando demais desse momento: eu já tinha gostado demais de momentos parecidos na segunda, na terça, na quarta… Hmm, bem, você entendeu. Isso se estava tornando num vício diário. Eu sempre passava por casa de Jeremy de tarde – onde ambos sabíamos que não estaria ninguém – e, por vezes, acabávamos por “desaparecer” também durante os intervalos. Tudo completamente inocente, claro.

Se bem que, se fosse para ser completamente sincera, isso se estava tornando mais num vício constante do que diário. Do género, a todo o segundo. Pronto, pronto!, talvez não a todo o segundo, mas eu me pegava revivendo sensações como os lábios dele no meu pescoço, ou as minhas mãos na sua nuca, ou a barba mal feita dele fazendo meu queixo picar. E isso acontecia durante as situações mais insuspeitas: filmes de terror, almoços com minha mãe, aulas de Matemática… Como se minha mente simplesmente se tivesse desocupado tempo suficiente para divagar para um local bom. E, meu Deus, como esse local era bom!

Mas isso também me preocupava. Quer dizer, eu sou Jane. Louca. Divertida. Independente. Eu não estava acostumada a ter minha cabeça preenchida com imagens de garotos! Bem, com imagens de um único garoto, quero dizer. Era território estranho – inimigo, até. E incrivelmente perigoso.

Esses pensamentos iam-se formulando – não necessariamente nessa ordem e certamente não com essa clareza – enquanto nossas línguas se entrelaçavam e Jeremy finalmente se decidia a me pressionar contra a porta. Com o próprio corpo. Você pode imaginar como, a partir daí, eu não pensei mais em territórios estranhos ou perigosos. Aliás, a sensação de perigo não estava nem perto de me desencorajar. Meus dedos, já completamente inconscientes, desceram até suas ancas, procurando a bainha da camisa. Jeremy mostrou seu agrado pressionando-me mais contra ele e acabando, sem querer, por exibir a definição de seus músculos. Isso me provocou mais ainda e deslizei, por fim, as mãos para dentro da sua camisa, obtendo uma demonstração mais clara da sensação desses mesmos músculos. O toque da pele dele era incrível – não apenas gostoso, mas realmente indescritível. Estendi as palmas contra o seu peito, pensando já em começar a puxar a camisa para cima.

E foi então que a campainha soou.

Separamo-nos instintivamente, a realidade afundando nas nossas mentes enevoadas aos poucos. Inspirei profundamente, olhando-o nos olhos à fraca luz que entrava naquela sala de arrumações por uma pequena clarabóia.

- Eu saio primeiro, dê um tempinho antes de me seguir. Use-o para se acalmar – pisquei antes de me virar para abrir a porta e sair, não sem deixar um último beijo rápido nos lábios de Jeremy – que tinha acabado de me revirar os olhos, porém aceitou o beijo de bom grado.

Caminhei quase convencidamente pelo corredor em direção à minha sala, a mochila já ao ombro, os ténis ecoando um pouco no ritmo do meu passo seguro. Eu me sentia bem. Muito bem. E o melhor era que me sentia assim sempre que estava com Jeremy. Eu gostava disso.

E, por isso mesmo, estava longe de achar que isso se tornaria um problema.


POV Josh

Deixei o último acorde da progressão soar, sentindo as ideias fluirem livremente e novas melodias surgirem de repente. Resolvi experimentar algo um pouco diferente e compor já um segmento final do que seria a minha mais recente música. Meus dedos começaram a dedilhar agilmente as cordas da guitarra no ritmo da melodia que construíra. O que eu necessitava agora era de uma letra que encaixasse com o pouco que já tinha. Algo que fosse mais forte. Mas o quê?

Sentia sempre falta de Hayley quando fazia isso. Ela era incrível a compor, sobretudo na questão da letra. Conseguia colocar um sentimento por palavras de uma forma que mais ninguém no mundo jamais conseguiria. Quando compunhamos algo e ela surgia com uma frase brilhante, eu costumava murmurar “poeta nata” bem baixinho para ela. Ela sempre me olhava e ambos sorríamos durante alguns momentos. Juro que, nesses segundos, o mundo parava.

Me apoiei no que esses pensamentos me faziam sentir e, ainda dedilhando calmamente, deixei que minha voz soasse quietamente pela sala vazia.

Taking up my time
Taking up my time
Taking up my time

(Tomando o meu tempo)

It's taking up my time I can't
go back, I can't go back at all
It's taking up my time I can't
go back, I can't go back at all
It's taking up my time I can't
go back, I can't go back at all

(Está tomando o meu tempo não posso
voltar atrás, não posso voltar atrás de todo)

It's taking up my time, taking up my time

(Está tomando o meu tempo, tomando o meu tempo)

Por entre a emoção desenfreada que a música sempre me garantia, acabei por me deixar levar e conseguir improvisar um solo que ficaria perfeito para tornar a música menos melancólica e um pouco mais rock. Apressei-me a anotar a tablatura e a letra no pequeno caderno repleto de folhas rabiscadas, deixando claro que essa pequena porção de música seria um último pós-refrão.

Ótimo. Agora eu só precisava do resto da música.

Ainda pensava em Hayley e todas as horas que passamos a compor, mas também me estava recordando da banda, dos ensaios, dos momentos de amizade pura. Sentia falta disso. De não me sentir sozinho. Aliás, mais do que isso: eu sentia falta de como me sentia vivo nesses tempos. Mas era impossível recuperar o passado.

Could you remind me of a time when I was so alive?
(Everything has changed)
Do you remember that?
Do you remember that?
(Everything has changed)

(Poderia me lembrar de tempos em que senti tão vivo?
(Tudo mudou)
Você se lembra disso? Você se lembra disso?)
(Tudo mudou)

Could you help me push aside all that I have left behind?
(Everything has changed)
Do you remember that?
Do you remember that?

(Poderia me ajudar a deixar de lado tudo o que deixei para trás?
(Tudo mudou)
Você se lembra disso? Você se lembra disso?)

Tentei afogar tudo o que sentia tocando e cantando energicamente, concebendo, entretanto, uma segunda voz. Repeti o refrão de seguida, desta vez cantando essa outra melodia. E tudo estava ajudando a atenuar a dor, como sempre fazia – até que eu me apercebi que, subconscientemente, estava tomando como garantido que Hayley cantaria uma das vozes.

Os soluços impediram-me de continuar a cantar.

Depois de me acalmar um pouco, uma torrente de coisas a dizer e sentimentos até então reprimidos fez com que minha mão deslizasse, ágil, por aquela página do caderno, riscando e rabiscando, compondo uma das letras mais sinceras que eu já havia escrito.

Inspirei fortemente, sentindo o ar frio curar um pouco do meu cansaço à medida que o libertava dos meus pulmões. Reli o resultado mais algumas vezes, fazendo alguns ajustes aqui e ali, e alinhavando já os acordes, assim como as partes em que iria dedilhar ou não. Quando me senti satisfeito, deixei o lápis cair para o sofá, enquanto me levantava e colocava o caderno na estante diante do suporte onde tinha deixado a guitarra. Eu estava pronto.

Respirei mais algumas vezes, organizando a música na minha cabeça. E então, comecei a tocar a introdução.

(N/A: dê play)

When I get home, I know I won't be home at all
This place I live, it is not where I belong
And I miss who I was in the town that I could call my own
Going back to get away after everything has changed

(Quando chegar a casa, eu sei que não estarei em casa de todo
Este lugar onde vivo, não é onde pertenço
E sinto falta de quem era na cidade que podia chamar de minha
Voltando para poder fugir depois de tudo ter mudado)

Could you remind me of a time when I was so alive
(Everything has changed)
Do you remember that? Do you remember that?
(Everything has changed)
Could you help me push aside all that I have left behind
(Everything has changed)
Do you remember that? Do you remember that?

So I stand here now and no one knows me at all
I won't get used to this
I won't get used to being gone
And going back won't feel the same if I’m not staying
Going back to get away after everything has changed

(Então aqui estou e ninguém me conhece de todo
Não me habituarei a isso
Não me habituarei a estar longe
E regressar não me parecerá o mesmo se não for para ficar
Voltando para fugir depois de tudo ter mudado)

Could you remind me of a time when I was so alive
(Everything has changed)
Do you remember that? Do you remember that?
(Everything has changed)
'Could you help me push aside all that I have left behind
(Everything has changed)
Do you remember that? Do you remember that?

Taking up my time
Taking up my time
Taking up mu time
It's taking up my time I can't
go back, I can't go back at all
It's taking up my time I can't
go back, I can't go back at all
It's taking up my time I can't
go back, I can't go back at all
It's taking up my time, taking up my time

Could you remind me of a time when I was so alive
Do you remember that?
Do you remember that?

Respirei fundo, escutando ainda o último acorde da música que eu chamaria “Franklin” soar. Já não sentia vontade de chorar. Porque, enquanto meus dedos se ocupavam em acertar as notas, e minha boca em cantar as letras corretas, algo se tornou claro para mim.

Eu ainda poderia consertar isso. E era exatamente isso o que eu iria fazer.


POV Jane

- Jeremy.

- Desculpa, Jane, mas sério. Você é muito melhor do que isso!

Fuzilei Jeremy com olhar. Não literalmente, claro, para meu grande desagrado. Mas acredite que, se por um acaso feliz, uma espingarda se encontrasse por aí, eu o teria feito. Irritar Jane Streep nunca é uma boa ideia.

- Claro que sou, Jeremy, mas nem todos os garotos têm dinheiro para diamantes e champanhe caro numa limusine de luxo.

- Jane. Para de ironizar. Isso foi no-jen-to – ele se referia à tentativa de Karl Dempsey, do 2º ano, de me cantar – a qual, considerando os músculos de Karl ganhados por intensos treinos de pólo aquático, eu jamais classificaria como “nojenta”.

- Eu só estou ironizando porque você está sendo idiota, Jeremy. Senão mesmo no-jen-to – ele pegou a minha tática de fuzilar as pessoas com o olhar e usou-a contra mim. O infeliz.

- Sabe que mais, Jane? Se você quer cair na cantada fácil de um garoto que já pegou mais de metade da escola, esteja à vontade.

- Obrigada! – sorri, por fim aliviada por aquela discussão terminar. Mas o revirar de olhos de Jeremy me deu a entender de seguida que: a) essa não era a resposta que ele queria; b) isso não estava nem perto de terminar.

- Não, Jane! Você não vai cair na cantada fácil de um garoto que já pegou mais de metade da escola!

E foi essa clara teimosia em largar o assunto que me fez entender o que se estava se passando: Jeremy estava com ciúmes. Suspirei, sentindo a paciência simplesmente desaparecer. Como eu iria lidar com isso agora?
Decidi virar-me para encará-lo, parando na sua frente e, por isso, impedindo-o de continuar a caminhar. Então, fitei-o intensamente.

- E quem é você para dizer o que eu posso ou não fazer?

- Sou seu – ergui ambas as sobrancelhas, desafiando-o a continuar. Ele suspirou – amigo. E me preocupo com você.

- Uau, estou super agradecida. Mas caso não tenha reparado, eu consigo tomar conta de mim mesma. Fique fora disso, Davis.

E virei as costas a Jeremy, sabendo que tinha sido demasiado dura com ele. Mas, oras, nós tínhamos um acordo! Só havia três regras – três! – e ele já tinha conseguido quebrar uma delas. Eu tinha explicado explicitamente: nada de ciúme. Isso é o fim de qualquer amizade colorida. E o que Jeremy estava fazendo? Discutindo comigo por causa de outro garoto, quando podíamos simplesmente ter desaparecido para uma sala de arrumações e ter passado o intervalo de forma bem mais proveitosa.

Isso não quer dizer que eu estava disposta a me jogar para os braços de qualquer um – muito menos de Karl Dempsey. Ele podia ser gostoso e tudo o mais, mas era demasiado popular para mim. Eu não estava com vontade de ser falada por toda a escola e, além disso, tinha uma política há muito estabelecida de ser discreta com os meus rolos. Mas o ponto essencial é que Jeremy não tinha nada a ver com isso! A única razão pela qual eu tinha sequer aceitado ter alguma coisa com ele era por me ter convencido que ele não interferiria em nada da minha vida. Eu não suportava isso. Já tinha decidido há muito que homem nenhum mandaria em mim. E eu não estava prestes a deixar que Jeremy achasse que o podia fazer.

O outro problema era que eu já não tinha a certeza se só uma regra tinha sido quebrada ali. O que aqueles ciúmes significavam? Que Jeremy se preocupava comigo apenas como amigo? Eu começava a duvidar disso. E se Jeremy também se lembrasse de nossos momentos do nada? E se essas memórias lhe dessem vontade de sorrir sem razão? E se – oh Deus – ele sentisse aquele friozinho na barriga sempre que me visse?!

Eu simplesmente não poderia aceitar isso! Não, não e não! Garoto algum sentiria isso por mim enquanto eu pudesse impedir! Porque isso depois fazia-os ter ciúmes ou esperar certas coisas de você e eu não poderia lidar com isso. Sobretudo, sendo Jeremy o garoto em questão. Ele era um amigo importante para mim e eu não queria perdê-lo apenas devido a caprichos de hormônios adolescentes. Isso era inaceitável!

Assim, passei todo o dia evitando-o e debatendo-me à procura de uma solução que pudesse corrigir tudo isso e devolver-me o meu (quase) melhor amigo. Ainda estava pensando nisso quando cheguei a casa depois da escola e ignorei as ligações perdidas (todas de Jeremy, claro). Ainda estava pensando nisso quando fui para o ensaio da banda. Ainda estava pensando nisso quando regressei do ensaio da banda – tendo passado todas essas horas a tentar ter o mínimo contato possível com Jeremy. Ainda estava pensando quando terminei todas as tarefas da escola e liguei a televisão para me estender no sofá, sem saber o que mais fazer. Ainda estava pensando nisso quando me fui deitar.

E ainda estava pensando nisso quando o relógio marcou as três horas e eu não conseguia adormecer.

Decidi ligar a alguém para desabafar, mas meu problema era: a quem? Obviamente, eu tinha apenas três opções – isto é, se queria ter uma conversa minimamente produtiva. Falar com garotos sobre esses assuntos já é uma tortura durante o dia, quanto mais a meio do seu sono de beleza. Não, eu precisava de uma garota. E, tanto quanto sabia, isso me deixava com três opções: Lisa, Sarah e Hayley. Só que havia uma outra questão: Lisa e Sarah estavam todas apaixonadas e melosas e amando a teoria “o-amor-é-tudo-de-bom”. Elas jamais conseguiriam ser imparciais. Hayley, por outro lado – e muito infelizmente –, sabia o que era sofrer por amor. Ela ainda estava lidando com as consequências disso. E, por isso mesmo, ela saberia ser realista.

Convenci-me disso enquanto selecionava o contato dela na agenda do celular e premia o botão para ligar. Decidi rapidamente que precisava ser direta. Hayley podia não ser um garoto, mas acordá-la de madrugada para falar sobre sentimentos não me parecia uma boa estratégia para alguém que quer manter a sua vida intata.

- Hmm… - depois de tocar durante uma eternidade, Hayley finalmente atendeu a ligação. Isto é, se eu posso chamar a esse jeito de atender dar sinal de vida. O que talvez não possa.

- Hayley?!

- Hum, quem fala?

- Hey, é Jane.

- Jane, o que você—TRÊS DA MANHÃ? TRÊS HORAS DA MANHÃ?! QUEM VOCÊ PENSA QUE É?!

Inspirei fundo enquanto escutava Hayley surtar. Porém, eu sabia o risco que corria quando iniciei a ligação. Decidi ser forte e continuar em frente.

- Desculpa, Hayles. É que estou com um problema...

Pensei que ela não me tivesse escutado, mas um suspiro resignado da parte dela me provou o contrário.

- Um problema? E ele não podia esperar até de manhã?

- Não, porque senão eu não ia conseguir dormir.

- Jane, você tem noção do quão irônico isso foi? – suspirei de volta, me sentindo um pouco culpada. Mas não pense que eu desistiria tão facilmente. Nem mesmo sendo três horas da manhã.

- Desculpa, mas eu não poderia ligar a mais ninguém. Sarah e Lisa iam ser péssimas conselheiras, já que estão infetadas pelo vírus do amor. Blerghhh. Pensei que você, pelo menos, poderia ser um pouco mais realista.

- Hm. Ok. Então o problema é com Jeremy, né? – deixei meu queixo cair. Como assim, ela sabia?! Digamos adeus a todas as regras da amizade colorida, porque não? Meu Deus.

- Como você descobriu?! É assim tão óbvio?

- Oh, querida. A tensão sexual entre vocês é tão sutil quanto a Grande Muralha da China.

- Hmm… - respondi, já não sabendo se agradada ou desagradada. – Mas então parece-lhe só desejo mesmo? Pura atração física? Nada sentimental à mistura?

- Oooohhh, essa ligação acabou de ficar interessante! Jane, a garota mais independente e emancipada que eu conhelo está gostando de alguém? Oh meu Deus, chamem um médico!

- Cala a boca!

- OH DEUS, VOCÊ ESTÁ MESMO!

- PARE! Estou a falar a sério, Hayley Nichole! Pare com isso ou eu desligo na tua cara.

- Desligue, eu nem me importava nada de voltar a dorm—

- Mas, para ser sincera – continuei, como se nada se estivesse passando –, o meu problema é justamente esse. Eu… eu acho que estou gostando mais do Jeremy do que deveria. Tudo bem que combinamos agarrarmo-nos de vez em quando… Mas se eu gostar realmente dele, não posso fazer mais isso!

Até eu senti a birra infantil crescendo na minha voz. Mas fazer o quê? O desespero me tomava cada vez mais.

- Porque não? Jane, você é doida. Sabe que o normal é ter o problema contrário, não é? Você já conseguiu conquistar o garoto, qual é o mal de gostar dele? – ela não estava entendendo a gravidade da situação.

- É que assim, eu vou ter de namorar com ele. E eu não quero isso.

- Porque não? – a confusão na voz dela era óbvia. Suspirei.

- Os compromissos são coisas que só funcionam entre certas pessoas. E eu já aceitei há muito que não sou uma delas. Para quê submeter-me à tortura, quando posso simplesmente ter a diversão? Não faz sentido.

- Parece-me que alguém tem fobia de compromisso…

Eu não tinha certeza se não seria do sono, mas eu estava sentindo a pontada da irritação surgir. Decidi ignorar.

- Não é fobia! É uma aceitação pacífica da realidade. As coisas são como são, para quê tentar contrariá-las e sofrer?

- Oh, Jane… - a voz dela soou com algo que parecia muito com pena. Mas como era Hayley em questão, decidi não desligar na hora e esperar para ver o que ela tinha a acrescenta . – Escuta o conselho de uma pessoa que esteve muito perto de tudo e o perdeu: é muito importante aproveitar as oportunidades enquanto você as tem. Porque, se você não fizer nada, um dia o que você tomava por certo vai desaparecer e, aí sim, você vai sofrer. Todos nós sentimos paixão e amor, não vale a pena fingir que não. E todos vamos sofrer por isso, mais tarde ou mais cedo. Mas mais vale sofrer por algo que você fez que por algo ao qual nem sequer deu chance.

- Hmm… eu entendo. Obrigada pelos conselhos, Hayles. Desculpa te ter acordado – fui falando, querendo terminar a conversa e processar um pouco o que Hayley tinha dito.

- Tudo bem. Só pensa nisso.

- Irei pensar sim. Boa noite, Hayles.

- Boa noite.

Desliguei a ligação, com um único pensamento em mente: eu estava errada. Eu estava redondamente errada.


Hayley também não entendia.

6 comentários:

  1. ameeeei o capítulo,só duas coisas:
    -JANE NAMORE LOGO COM O JEREMY
    -JOSH VOLTE LOGO E AGARRE A HAYLEY LOUCAMENTE
    HSUHAUSHUA
    enfim,eu sou a anônima do outro capitulo,mas se quiser me chamar de Vitória tudo bem kkkkk
    enfim,espero que poste logo os próximos capítulos
    beijos <3

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    1. Oi Vitória! Que bom que gostou :333
      DIMGPOSIMGPOFSMGPOSGPSOIMGSFPOIMGPOFSIMG Veremos o que acontecerá HEHEHEHEHEHE
      Quero sim te chamar de Vitória, oi Vitória (again) POSIDMPOSIGM
      Não sei se eles sairão logo logo, mas eu vou tentar escrevê-los assim que puder ^^
      Beijos, linda, muito obrigada!!!

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  2. CHEGUEI NOS COMETÁRIOS DA EB! ~pose ninja para a foto~
    OI SOFSSSS! (Sou eu, Giovanna. XD)
    Gente, eu já expressei todo meu amor pela EB em si no chat há uns cinco minutos atrás, então...
    É. EU VOU DIZER QUE É LINDA, PERFEITA E AMOR NOVAMENTE!!!!!
    ESTOU APAIXONADA PELA EB (E por esse Taylor XD)
    Enfim...See ya, amore
    Luv ya <3

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    1. GI, SUA NINJAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA <3 Soube que era você pela pose ninja hehehehe <3
      SUA FOFAAAAAAAAAAAAAAAAAA, que bom que tá gostando <3 Apaixonads por vc, mesmo <3 <3 <3
      Eu quero esse Taylor pra mim tb ~~morre de chorar pq ele é fictício e inalcançável~~
      I love you baby, THANK YOUUUU <3

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  3. Oiiii Sofs sua gata! Eu amei esse cap e... Ai como essa fic é apaixonate S2 pra ela! E tadinho do Josh, cara, todo tristinho e solitario, acho q vou la fazer companhia pra ele uahsuahsuah
    enfim, espero att logo!
    Bjss sua linda <3

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    1. Oi Ren linda!!! ^^ Nhaawwww, obrigada!!! Isso me faz sentir mega orgulhosa e feliz, muito obrigada mesmo! POSIDFPSOIDGSIPOFN Fazer companhia ao Josh: um "sacrifício" que nenhuma de nós se importaria de fazer ;)))
      Obrigadíssima pelo comment, baby ^^ Beijão <3

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