Capítulo 38

A leap of faith



POV Louise

Levantei-me silenciosamente, dirigindo-me  então – acompanhada por meu livro – à poltrona da sala que ficava mais perto da porta entreaberta da cozinha. A voz de Sarah ecoava de forma clara pela mesma. Minha tentativa de me aproximar era mais para procurar escutar a voz de seu interlocutor. Pode me chamar de coscuvilheira, se quiser, mas qualquer mãe entenderá meus motivos. Pelo menos, espero eu.

- Sim, claro – ela ria despreocupadamente, como se a outra pessoa a entretesse consideravelmente. Eu entenderia se essa pessoa fosse Taylor, mas eu sabia que não era ele. Eles nunca se falavam por telefone. – Oh, estamos quase terminando. Eu sei! Estou muito animada; estamos todos, aliás. Pois é. É incrível quando pensamos nisso. Somos tão novos, mas mesmo assim, estamos fazendo algo de que nos podemos orgulhar.

A campainha tocou, exigindo que minha atenção se desviasse para ela. Fingi nervosamente estar a ler, concentradíssima, meu livro, quando os passos da minha filha se fizeram ouvir e ela, ainda segurando o auscultador do telefone, surgiu à porta:

- Mãe, pode vir falar aqui enquanto eu atendo a porta?

- Hmm… - desempenhei o meu papel de ávida leitora até às últimas consequências, demorando para levantar o olhar da página para a minha menina – Hã… Quem é?

- Pa- Brian. É Brian. E à porta – a campainha tocou de novo, como que realçando o que Sarah estava prestes a falar –, é Lisa. Que veio para me entregar uns apontamentos rapidamente. Então, se despache, por favor.

- Mas Sarah… Eu não tenho razões para—

- Aham, aham – ela falou, encostando o telefone de novo à cara. – Sim, fique falando com mamãe, eu já volto.

E, apesar de eu estar gesticulando “não” de mil formas diferentes – e todas energéticas o suficiente para o livro já ter acabado no chão –, Sarah depositou o telefone nas minhas mãos, caminhando alegremente em direção à porta. Suspirei.

- Louise?

- Olá, Brian.

- Oi! Como está? – ora ali estava um tom entusiástico que eu não esperava. Mas Brian era advogado, fingir para agradar aos outros não era, certamente, novidade para ele.

- Hmm…

- Oh, meu Deus, me desculpe! Pergunta idiota.

Tive que decidir se estava mais irritada pela pergunta insensível ou pela reação nada sutil. Tentei inspirar de forma a me acalmar e pensar em algo para salvar a conversa tanto quanto possível.

- Ahm… Enfim, como está você?

- Bem. Bastante bem, na verdade. Sarah, como você deve saber, tem falado muito comigo ultimamente…

Eu, de fato, não sabia – o que era um pouco estranho, visto que Sarah não me costumava esconder nada de importante. Oh, ela tentava. Porém o nervosismo dela sempre a denunciava; era uma péssima mentirosa, pelo menos para mim. O que só me fazia ver que ela realmente não achara importante me contar isso. Se é que havia algum sentido nisso.

Louise? – a voz súbita de Brian ao meu ouvido me retirou desses pensamentos, lançando-me, porém, em direção a outros. A ligeira preocupação presente no seu tom devolveu-me a outros tempos; tempos em que o vazio dentro de mim ainda não existia e todo o futuro era nosso para dispor e imaginar e fazer planos. Segurei o nó na garganta o melhor que pude.

- Porquê agora, Brian?

- Hã? – a preocupação aliava-se agora à confusão. Mas ele sabia do que eu estava falando. Ele sabia.

- Você me escutou: porquê agora? Está convencido de que precisamos de si?

- Louise—

- Está, não está?! Pois fique sabendo que isso não é verdade. Tanto ela como eu estamos bem sem você. Você deveria ter aprendido isso da primeira vez.

- Escuta, Louise: eu entendo que você esteja magoada. Você tem o direito de estar. Mas eu sei os erros que cometi, e me afastar foi um deles. Você sabe que é verdade. Você pode até nem precisar, mas ela também é minha filha, e eu nunca me deveria ter afastado! Nisso eu assumo a culpa, mas você também tem que admitir sua parte nisso tudo. Seja sincera consigo mesma, Louise, e perdoe-se. Perdoe-nos. Éramos jovens; o que poderíamos saber das consequências de nossos atos? Erramos, mas ainda temos tempo de retificar tudo. Ainda há tempo—

- Brian – refreei as lágrimas o melhor que pude, colocando toda a determinação e raiva que sentia nessas palavras. – Escute você: não use sua retórica manipuladora comigo, certo? E nós estávamos bem sem você. Você vai desestabilizar tudo! O que você vai responder quando ela lhe pedir explicações? O que você vai fazer se ela decidir que, afinal, não quer ter nada a ver consigo? O que você vai fazer quando lhe der uma das crises que eu já vi acontecer? Você vai ajudar do outro lado do país? É isso que você acha que é ser pai? Telefonar de vez em quando? Poupe-me seus sermões, Brian. Nós podíamos ser jovens na altura, mas eu sempre soube o que fazia. Você, por outro lado, vive iludido com facilidades até hoje.

- Diga o que quiser, Louise. Mas então e o que você vai fazer? Impedir Sarah de falar comigo? Deus sabe que não seria a primeira vez… Mas agora ela não é tão influenciável quanto antes. E eu espero que, se você tem tanta certeza de que está fazendo a coisa certa, consiga arranjar coragem suficiente para lhe negar uma conversa comigo quando ela quiser. Eu nunca fui quem forçou nossa filha a fazer fosse o que fosse.

Ri sarcasticamente.

- Talvez porque eu nunca lhe dei chance. E nossa conversinha terminou por aqui. Sarah pode falar consigo se quiser. Afinal, de algum lado ela tem de aprender a se sentir desiludida.

Desliguei a ligação, deixando o telefone no repouso. Limpei as lágrimas o mais eficientemente que consegui, e caminhei em direção à sala, onde Sarah e Lisa estavam sentadas, fingindo discutir algo. Pelas expressões delas, porém, entendi que minha conversinha com Brian não fora tão sutil quanto eu desejara. Pelo menos não teria que ter o desconforto de introduzir a situação para Sarah.

- Oi Lisa.

- Olá, Louise. Hã… Pronto, Sarah, se tiver mais alguma dúvida entretanto, mande mensagem ou assim; eu responderei assim que puder.

- Ok, obrigada – Sarah respondeu distraidamente para amiga, enquanto esta deixava um rápido beijo na sua bochecha, assim como na minha, e se dirigia à porta.

Sentei-me na poltrona quando escutei a porta da frente bater levemente. Fitei Sarah. Ela correspondeu à intensidade do meu olhar, a irritação crescente na sua expressão facial.

- O que foi aquilo?

- Porque me forçou a falar com ele? – atirei de volta.

- Eu… eu tinha a porta para atender e não pensei que—

- Pois pensou mal – desviei o olhar, logo notando como estava parecendo exagerada. Sarah não tinha culpa de nada disso. Ela só queria o seu pai. Porém, eu sabia por experiência que esse desejo, quando era em relação a Brian, sempre terminava frustrado. E eu não a queria ver magoada de novo. Suspirei. – Desculpe. Mas, Sarah, Brian é… ele é uma pessoa complicada. Eu sei que ele é seu pai e você tem todo o direito de o querer conhecer. Mas isso vai levar a que você dependa dele de alguma forma, e isso é péssimo.

- Porquê?

- Porquê? Você sabe porquê. Ele não é confiável.

- Mãe… Você sabe aquele vídeo que você gravou quando lancei o primeiro papagaio com vovô? – senti minha garganta fechar só de lembrar de momentos como esse. Ela tomou minha emoção súbita como um “sim” – Ele tem essa gravação. E também meu primeiro recital de sempre; e a peça de teatro que fiz na primeira classe; e aquele recital em que eu fiz de fada; e… - ela sorriu para mim. – Ele tem todas, mamãe. Todas. Aliás, ele até tem um concerto favorito. Sabe qual é? É o último. Aquele que me fez abandonar a escola de música, sabe? Ele diz que é o preferido porque a emoção que eu coloquei nele ultrapassou tudo o resto.

Ri sarcasticamente, já recuperada do choque inicial da descoberta, mas ainda limpando as lágrimas implícitas.

- Eu entendo que você esteja encantada com isso, Sarah. Mas ser pai é muito mais que assistir algumas horas de filmagens e escolher um momento favorito. É muito mais do que falar por telefone de vez em quando. É muito mais do que estar à distância de um país inteiro! Entende? Por mais que Brian esteja de fato tentando, isso tem tudo para não dar certo. E eu só não te quero ver desiludida.

Ela já tinha baixado o olhar para o próprio colo por esta altura. Notei pela inspiração profunda que ela estava lutando para não começar a chorar também. E eu só conseguia pensar que nada disso estaria acontecendo se Brian não tivesse aparecido no dia do funeral. Porque ele tinha que ser tão egoísta?

- Mãe. Você está marcada por erros que Brian cometeu no passado. Eu entendo isso. Você passou por muita coisa difícil, justamente porque ele não te apoiou. E claro que ele errou. Mas isso não faz dele uma pessoa errada. Ele está realmente tentando dessa vez, eu consigo notar isso. Eu… eu noto o amor nele, mãe – com essa frase, as lágrimas contra as quais ela tão arduamente lutara começaram a cair. – Então me chame de ingênua, ou idiota, ou o que quiser. Mas você não me vai impedir de falar com o meu pai. Eu tenho o direito de descobrir quem ele é, pelo menos. E se ele for realmente quem você acha que ele é, eu lidarei com as consequências. Mas, por favor – por favor –, não me impeça de descobrir. Porque eu preciso disso, mãe. Eu te amo, e você é a pessoa mais importante para mim, mas eu também preciso do meu pai.

Fechei meus olhos – que transbordavam copiosamente –, tentando assimilar tudo o que Sarah falava. Ela não me estava convencendo de que não se iria magoar, mas também não era esse o seu objetivo. Ela estava me pedindo a chance de explorar algo que eu sabia que poderia ruir a qualquer momento. E eu não queria que ela caísse de novo. A verdade, entretanto, é que ela era uma adolescente: ela faria o que quisesse mesmo que eu o proibísse. E de que serviria isso? Só nos iria afastar e aí, quando Brian de facto desaparecesse mais uma vez, Sarah se sentiria mais sozinha que nunca. Eu podia prever isso.

Então, tinha que fazer tudo ao meu alcance para o impedir. E se isso envolvia permitir algo com o qual eu discordava, só para que não se criasse um abismo entre nós, eu iria consentir. Imporia regras, pensei, então poderia limitar a quantidade de contato – e, logo, de dependência – entre Sarah e Brian. Eu criaria um ambiente seguro, onde Sarah, desiludida, se pudesse apoiar quando tudo corresse mal.

E esse pequeno plano foi a única coisa que me deu coragem suficiente para dizer as seguintes palavras:

- Eu te amo, também, pequena. Você pode falar com Brian, sim – ela me olhou em choque, quase nem acreditando, se levantando para me abraçar de imediato.

- Obrigada, mãe, obrigada…

- Eu te amo demais. Demais, filha. Se é isso que você precisa, eu te darei. E eu estarei sempre aqui para você.

E, com Sarah me abraçando e chorando a um tempo, eu soube que tudo isso era verdade. Por mais que as adversidades se colocassem diante dela, ela teria de as enfrentar. Enquanto isso, eu sempre estaria lá para apoiá-la. E isso teria de bastar.

Sábado, 24 de abril
Taylor

Desci as escadas duas a duas, apressado pelo toque insistente da campainha. Meus pais haviam saído para o seu passeio de bicicleta, como sempre. E como sempre, Sarah estava lá fora me esperando para irmos juntos para o ensaio da banda… há já cinco minutos. Provavelmente achava que eu tinha adormecido e estava tentando me acordar com a tortura auditiva causada pela campainha. Respirei fundo e levei a mão livre à maçaneta. A outra estava ainda a tentar apertar os primeiros botões da camisa.

- TAYLOR YORK! Para que serve o celular se você não o usa?!

- Bom dia para você também, darling – inspirei fundo, abrindo a porta o suficiente para Sarah ter espaço para entrar. Então, dediquei-me por inteiro a apertar devidamente a camisa.

- E essa tentativa de me seduzir para acalmar minha raiva não vai funcionar, querido!

Ri-me, alternando o olhar entre a camisa e Sarah. Ela me olhava em expectativa. De que eu explicasse o que se passava, claro. Fechei o último botão e peguei a ponta de um dos meus volumosos cachos, ainda molhados.

- Isso se chama ducha, querida – fiz questão em dar o mesmo ênfase à palavra. Ela apontou para o relógio de pulso.

- Isso se chama pontualidade, amor.

Mordi o lábio, tentando por tudo ignorar a enorme vontade que me assolava em momentos como esse. Amigos. Amigos. Amigos. Amigos…

- Adormeci, desculpa – admiti por fim, assumindo a derrota. Claro que eu sabia que a razão não estava do meu lado nesse caso, mas eu insistia de qualquer jeito, só para que pudessemos fingir discutir. É, eu devo gostar de sofrer.

- Tudo bem. Só podia ter usado o celular, né, Tay?

- Não debaixo do chuveiro, né, Sarah?

Ela suspirou e revirou os olhos, impedindo o começo de uma nova versão da mesma briga.

- Pronto, pronto. Mas já podemos ir…?

- Sim, claro, deixe-me só pegar a guitarra.


Depois de uma recepção dessas, fomos andando até à casa de Hayley mais silenciosamente do que seria de prever. Com tudo o que tinha acontecido no último mês, era normal Sarah ter momentos mais… quietos. Eu entendia. Mas quando a via passar de um humor para outro, eu sabia que havia mais qualquer coisa que ela não me estava contando.

Juntei a coragem necessária e falei.

- Sarah-bear… que se passa?

Ela me olhou de soslaio e suspirou. Parou de andar.

- Sabe como eu tenho falado com Brian?

- Aham – assenti com a cabeça.

- Eu meio que passei o telefone a minha mãe ontem à noite. Sei lá, eu achei que ela até fosse gostar de saber disso. Sabe? Ele se esforçando e tudo o mais… - ela respirou fundo e eu pude quase adivinhar o quanto ela estava tentando não chorar. – Como eu estava errada, né.

Abracei-a sem aviso prévio, sentindo seus braços se estreitarem ao meu redor de imediato. Porém, se ela estava chorando, era silenciosamente. Calmamente. Decidi insistir.

- O que Louise disse?

- Oh, o que seria de esperar – sua voz se mostrou de facto chorosa, mas nada alarmante. Bem, meu coração doía de qualquer jeito. – Que Brian não é confiável. Que ele vai desaparecer quando eu mais precisar… Basicamente, que estou cometendo um grande erro em sequer falar com ele.

- Jesus… Sarah – afastei-a um pouco de mim, de modo a ter espaço para levantar seu rosto na direção do meu –, você quer conhecê-lo, não é? – ela assentiu. – Então não espere que ele seja perfeito. Pense assim: se o que você quer é conhecê-lo, você irá consegui-lo quer ele te desiluda ou não. Se Louise estiver certa, claro que… não vai ser bom. De todo. Mas você sempre a terá a ela, sempre terá a mim e pelo menos resolve essa grande questão de uma vez por todas. Eu sei como isso é importante para você. E quem sabe? Talvez mereça o risco.

Ela assentiu, mas logo discordou. Estava confusa. Pensei em como era quase revoltante que ela tivesse que lidar com tanta coisa de uma só vez. E entendi então que a admirava como nunca tinha admirado nenhuma outra pessoa antes.

- Talvez… mas isso não apaga o medo, Tay.

- Nada vai apagar o medo, pequena. Mas deixe que a coragem seja maior que ele. Se as coisas acabarem mal… pelo menos você sabe que foi forte o suficiente para tentar. E por isso, também vai ser forte o suficiente para ultrapassar isso.

Ela encostou a cara ao meu peito de novo e fechou os olhos.

- Eu te amo, Tay. Nunca sonhe em me abandonar.

- Boomerang, pequena. Sempre voltarei para você. Isso é uma promessa.

A sensação boa da sua expiração lenta contra o meu ombro logo foi interrompida pelo toque do celular. Levei a mão ao bolso, retirando-o e dando uma olhada ao ecrã. Hayley. Atendi, lançando um revirar de olhos para Sarah, que entendeu a mensagem. Ela se aconchegou um pouquinho mais a mim, antes de se afastar de vez.

- Alô.

- TAYLOR YORK!

- Ai! Porque estão todos berrando o meu nome hoje? – Sarah, que caminhava do meu lado com a mão entrelaçada na minha, riu.

- Porque você está atrasado! Você e Sarah. Guardem o namoro para depois e venham logo, ok?

- Ok, senhorita. O que a senhorita mandar!

- Pare de gracinha, estou falando sério.

Suspirei, ainda meio divertido.

- Certo, desculpe. Adormeci. Mas estamos quase chegando, juro.

- Pronto, ‘tá. Mas despachem-se! Tem uma surpresa aqui para vocês – olhei espantado para Sarah, que provavelmente conseguia ouvir as palavras de Hayley tão bem quanto eu.

- Ok. Até já.

- Até.
                                                   
O sinal sonoro de que a ligação tinha sido terminada fez-se ouvir assim que viramos a esquina em direção à rua de Hayley. Quem gastou o crédito foi ela, né? Eu estava em paz com a minha consciência. As gravações do álbum estava praticamente terminadas, e o maior trabalho agora era de edição. Os ensaios de sábado à tarde em casa de Hayley eram mais uma tradição que uma necessidade.

Caminhamos decidida, mas calmamente em direção à porta dela. Ainda assim, a curiosidade fervilhava dentro de mim – e pela expressão bastante mais animada de Sarah, entendi que ela se sentia da mesma forma. Pressionei a campainha, cada vez mais impaciente.

- FINALMENTE! – a porta se abriu, revelando o que, de relance, bem podia ser uma chama de fogo. Mas nós já estavamos acostumados com isso.

- Sorry, sorry… - fui me desculpando, enquanto Sarah largava a minha mão e cumprimentava Hayley, para logo ser imitada por mim. A porta em direção à sala estava aberta. Achei estranho: os ensaios sempre eram na garagem.

- Então, gata, que surpresa é essa? – Sarah tratou de questionar o que ambos estavamos mortos por saber. Hayley riu.

- Venham e descubram por vocês mesmos.

E com essa frase tão esclarecedora, ela passou para dentro da sala. Eu e Sarah-bear trocamos um olhar conspirador, perguntando-nos mutuamente sobre a saúde mental da nossa amiga e vocalista preferida. Mesmo assim, a curiosidade venceu e seguimo-la para o interior do cômodo.

Assim que cruzei a porta, meu olhar passou em redor: o resto da banda estava ali reunida, rindo. Mas também lá estavam duas outras pessoas, que notei serem o centro das atenções e, logo, também a fonte das piadas. Porém, isso não foi de admirar quando reconheci uma delas como Zac Farro. O garoto que se sentava a seu lado era, nada mais, nada menos do que seu irmão, Josh.

Hayley festejou, apontando na direção dos dois.

- SURPRESA!

- Oi! – Sarah atravessou a pequena sala rapidamente, abraçando ambos os garotos com entusiasmo. Segui o seu exemplo assim que minha mente processou o que estava acontecendo.

- Olha vocês, vou fingir que não vos vi ontem. Oi, oi – ri com o habitual à-vontade de Zac.

- Oi, Sarah. Taylor – Josh correspondeu com agrado a ambos os nossos abraços. Ele sorria. Senti o alívio e a alegria me atravessarem como uma onda calmante.

- Como está? – perguntei, verdadeiramente interessado. Ele, porém, franziu o nariz.

- Hmm… acho que Baltimore não é o que eu esperava – suas palavras eram selecionadas com cuidado, mas em seus olhos eu vi um pequeno ódio àquela cidade. Suspirei.

- Que bom que você está aqui por hoje, então.

Josh assentiu e a conversa continuou animada por mais algum tempo. Liderados por Zac, todos contavam os últimos acontecimentos para Josh. Desde coisas na escola a outras mais pessoais, ele parecia realmente feliz e interessado em saber de tudo. Até de pequenas indiretas sobre Jane e Jeremy ou eu e Sarah. Por favor, como se todos já não soubessem sobre isso há meses.

- Bem… gente! Tanta novidade, né? Obrigado por partilharem tudo isso comigo. Mas eu também trouxe uma coisa para partilhar com vocês – os sussurros de surpresa instalaram-se naquela sala. – É… bem, é uma música. Tem como eu a cantar para vocês?

Hayley inspirou fortemente, recuperando-se do choque.

- Claro! Vamos para a garagem, então.

A coisa mais engraçada dessa baixinha de cabelo cor-de-fogo é que você pode brincar com ela de todas as formas que quiser, porém quando ela fala, você obedece. Isso é, claro, a única explicação para, logo após as suas palavras, todos nós nos termos levantado e a seguido para o nosso espaço de ensaio improvisado.

Josh pegou um banco e uma guitarra, ligou-a ao amplificador, e sentou-se, pronto para começar. Nós acomodamo-nos em frente a ele, sentados simplesmente no mesmo tapete de sempre. Assim que fizemos silêncio, a sua incrível destreza e à-vontade com o instrumento fizeram-se notar, tocando uma pequeníssima introdução – que logo se fez acompanhar da sua própria voz. A melodia calma e melancólica colocava o ênfase na letra da música, que retratava, basicamente, como ele se vinha sentindo. E o que emanava da música era, acima de qualquer outra coisa, um enorme sentimento de saudade.

Quando terminou, Josh anunciou que havia chamado Franklin à canção. Porém, todos nós estávamos demasiado perplexos para reagir. Olhei em volta. A emoção era clara em todas as expressões daquele lugar, incluindo a de Josh. Numa espécie de clique, entendi que isso, no fundo, era bom: Josh estava-se abrindo conosco. Ele sentia a nossa falta e nós, claramente, também sentíamos a dele.

Puxei o aplauso. No final, Jane tomou a palavra.

- Isso foi… incrível.

- Arrepiante, na verdade – Sarah completou.

- Com certeza! Eu… poxa, Josh. Você é… um gênio – Jeremy terminou colocando uma entoação nessa palavra que, em qualquer outra situação, teria causado escandalosas gargalhadas.

- Sabe que mais? – Hayley continuou, parecendo estar tendo um momento de revelação. – Não, sabe? Nós temos que usar isso no álbum. É perfeito! É tipo… o fim da viagem, sabe? Se esse álbum conta a nossa história como banda, nós temos que usar Franklin nele. Simples.

Josh parecia hesitante em relação a isso, tentando avaliar a reação dos restantes antes de dar a sua opinião. Jane olhava intensamente para Hayley.

- Sim. Sim! Faz todo o sentido! Eu estou de acordo.

- Eu também – apoiou Jeremy, assentindo vigorosamente. Zac imitava seus movimentos sem sequer notar.

- Se eu tiver voto na matéria, também voto sim.

- Isso é… uma ótima ideia – Sarah parecia tão entusiasmada quanto todos os outros.

Senti o olhar de todos cair sobre mim. Voltei-me para Josh.

- I remember that. Eu concordo, mas acho que podemos mudar os seus “I’s” para “we’s”, o que me diz? (N/A: se não entendeu o detalhe que Taylor apontou, volte ao capítulo 37 e preste atenção nas letras de Franklin, seu distraído. Tsc tsc.)

Josh correspondeu com um sorriso enorme, assentindo com entusiasmo. Nesse momento, foi como se tudo parecesse incrivelmente mais fácil, mais correto, mais puro. Como se estivessemos consertando algo quebrado que até aí tínhamos ignorado. Como se as coisas entre nós pudessem voltar a ser uma simples amizade consertada, sem ressentimentos.

Sorri de volta para Josh. Eu me lembrava de tudo o que já tínhamos partilhado, claro. Mas, nesse momento, tornou-se claro para mim que podíamos construir algo ainda melhor.

E iríamos. Oh, se iríamos.

6 comentários:

  1. AHHHHHHHHH HSDAGDJHASGD
    sofia, tens de escrever o próximo jááááá
    Adorei!!

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    1. POSMDFOPSDMFOSIPGF Oi, tás tão fofa hoje! POISMDFPOIMDPOM
      Oh, cara Maguie, devo dizer que estás muito apressada. Toda a EB se relaciona com saber esperar e-- Pronto, pronto. Até pode ser que eu te faça a vontade - só um BOCADINHO - no próximo chap. Veremos ~~lalalalalaaaaaaaa~~
      <3 Obrigada, linda <3

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  2. SOFIAAAAAAAAAA! Aiii como eu amo a EB. <3 <3 <3<3 <3
    Que coisa mais linda, mais perfeita, mais.... 'Ce me deixou sem palavras, mocinha. <3 Já estou esperando o próximo aqui, amore.
    Xoxoxoxxox

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    1. QUE BOOOMMMMMMMM <3 Isso me deixa orgulhosa, minha Gi ninja ama minha fic ~~dança da vitória~~
      <3 <3 <3 Já o estou escrevendo :33333333333333333
      Beijão, meu bem, obrigadaaa <3

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  3. Oii,é a Vitória! Awn,que saudades que eu tava de ver eles todos juntinhos shuahusa
    adorei o capítulo,tu escreve muito bem :3
    to esperando pelo próximo capítulo,beijos

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    1. Oi!!! OISDGPGIPG Que bom que matamos essas saudades então :33
      Obrigadíssima, linda!
      Ele sairá em breve mesmo, já está escrito! Beijão!

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