Oi amores! Então, falemos aqui um pouco. Esse é o capítulo 40 da nossa EB, tipo... WHAT?! Essa fic durou bem mais do que eu esperava inicialmente. E significou muito mais para mim também. Mas agora está chegando ao fim. Não neste capítulo em si, contem com mais um capítulo bónus, o capítulo final e o epílogo, em princípio. Mas é, está chegando. Está mesmo ao virar da esquina. Por um lado, isso é muito bom para mim. Tenho outros planos em mente: ainda vos devo uma one de HP, tenho outra fic no forno, assim como outros dois planos para possíveis livros. É bom terminar EB para poder avançar mais com tudo isso.
É que EB foi um compromisso grande para mim. Estou com essa história faz uns três anos, sendo que eu já tinha escrito antes de começar a postá-la e, logo, reescrevê-la. E dá para notar perfeitamente a diferença entre as duas escritas. Então eu quero agradecer-vos por assistirem e estarem comigo enquanto eu melhorava isso.
Por outro lado, isto é complicado. Essa será sempre uma fic muito importante para mim, porque tem tanto de mim nela que acho que, quem me conhece, consegue ver isso perfeitamente. Essa fic é tudo o que eu penso sobre a vida. Coisas com que eu própria lidei através dos anos. Coisas que eu gostava de ter para mim. E espero que, de uma forma ou de outra, cada um de vocês se reveja nela também. Ao seu jeito. Aprendendo a ser feliz como os nossos principais fizeram. No fundo, espero que tudo isso tenha significado algo para vocês, porque, para mim, significou tanto.
Mas, como tudo, está na hora de avançar.
Aproveitem o capítulo, eu sei que vão adorar certas partes ;) Boa leitura!
Goodbye Apathy
Música do Capítulo: Goodbye Apathy
POV Narrador
O silêncio ecoava agora pelo
quarto que parecia ter parado no tempo. A voz de Taylor, até aí o som que
dominava e animava o local, deixou no ar um indício de sorrisos. Sarah estava
sentada na sua antiga cama, de costas contra a parede e com a cabeça de Taylor
no seu colo. Afagava os cabelos agora curtos daquele garoto que crescera
entretanto. Daquele garoto que se fizera um homem. Ela suspirou.
- Incrível lembrar de tudo isso,
não é? – incrível era também o jeito como o riso que Taylor deu em resposta
ainda conseguia arrepiá-la, mesmo depois de tanto tempo.
- Incrível é pensar que já
vivemos tanta coisa e nos esquecemos disso tão facilmente. Mas eu te entendo.
Achava até que tinha escrito um pouco mais depois disso…
- Bem, depois disso começamos a
preparar a tour, é normal que não
tenha dado tempo. Foi isso o que aconteceu comigo, pelo menos – ele assentiu,
subitamente parecendo distante. Outras memórias o invadiam.
- Essa foi uma tour muito importante para mim – ele
parecia sério. Ela sabia ao que ele se referia, mas desvalorizou a ideia.
- Foi sua primeira tour, é claro que foi importante –
completou a ideia com um encolher de ombros.
- Não… Quer dizer, sim, também,
foi importante para todos nós enquanto banda. Mas também foi importante para
mim e para você – ele olhou finalmente nos olhos dela, prendendo sua atenção,
pedindo a sua sinceridade. Por fim, ela concordou. Sorriu.
- Isso é verdade. Mas passar um
mês dentro de uma van com outras pessoas tem que ter suas vantagens, certo? –
Taylor riu juntamente com ela, em resposta. – Também foi importante para a minha carreira, se for pensar nisso. Foi
minha única experiência de tour, mas
deixou marcas suficientes para compreender um pouco melhor aquilo com que eu
lido hoje.
Sarah referia-se a seu emprego
atual como jornalista numa revista de música, o qual considerava seu emprego
dos sonhos. A música sempre fora importante para ela, mas a experiência de
desenvolver um diário escrito, entre outras, suscitou uma nova paixão: a
escrita. Quando, durante essa mesma tour,
Hayley e Jeremy falaram mais sobre suas razões para não seguir os estudos agora
que tinham completado o ensino médio – que se baseavam no fato de que, agora
com o primeiro álbum nas lojas, a universidade não oferecer vantagens em
relação a simplesmente criar uma carreira tocando –, Sarah apercebeu-se, numa
onda avassaladora de compreensão, que esse não era o seu futuro. De que nunca
conseguiria viver em tour pelo resto
da sua vida, criando nada mais do que música. Tinha sido bom até aí, com
certeza, mas a ideia de viver somente daquilo assustava-a.
Juntou-se a esse fator um outro,
também decisivo: Sarah era uma temporária na banda. Com tudo o que viera a
acontecer ao longo dos meses anteriores, todos pareciam ter colocado essa
condição um pouco de parte. Agora, porém, com a reconciliação com Josh e a
amizade reatada, era notório que os dois irmãos estavam prontos para voltar à
ação. A Sra. Farro, por fim grávida de uma menina, parecia estar sentindo os
efeitos calmantes que essa nova alegria, juntamente com o sucesso da banda, lhe
traziam. Ela já não se opunha aos desejos dos filhos de construir uma carreira
com base na música. E isso era a eliminação do último obstáculo.
Após a primeira da tour da Paramore, com todos já
confortavelmente re-instalados em suas casas em Franklin, foi convocada uma
reunião de banda. Sarah, tal como seus outros amigos, sabia no que ela iria
consistir: o anúnico de que a verdadeira Paramore voltaria a reunir-se, com a
realidade implícita de que tanto ela quanto Jane teriam que sair. Tendo
descoberto já o que pretendia vir a ser o seu futuro, Sarah não se sentia mal
com isso. Teria saudades daqueles tempos, sim, mas a verdade é que toda a
situação de “banda nos tempos livres” também estava atingindo o prazo de
validade. Eles tinham que se dedicar a isso profissionalmente agora, ou não
conseguiriam atingir seu sonho nunca. E Sarah sabia que não era ela quem tinha
lugar marcado nessa viagem.
Por isso, foi com o orgulho de
saber que fora, em grande parte, por sua causa que Josh e Zac teriam uma banda
à qual regressar, que nossa protagonista se encaminhou a essa reunião. Teria
sempre o conforto da amizade da banda, sabendo que todos se encontravam a
apenas algumas ruas de distância quando sentisse saudade. “É agora”, dissera
Hayley, como Sarah já antecipava, “que temos de começar a construir os nossos
sonhos – ou seja, temos de nos entregar mais à música”. Mas as palavras que se
seguiram foram tão inesperadas como uma tempestade no mar calmo: “queremos nos
mudar para Los Angeles, onde podemos criar mais contatos e ter aulas de
música.”
Algo frio e pesado parecia ter
atingido a adolescente em cheio no peito. Então não só estava abandonando a
banda a que tinha dedicado os últimos meses, mas também estava sendo abandonada
pela mesma? Estaria mesmo perdendo seus amigos? E Taylor? Porque não falara com
ela sobre isso antes?
De fato, Taylor já planejava isso
há algum tempo. Tinha conseguido, finalmente, a autorização plena de seus pais
naquela mesma manhã para abandonar o ensino e se dedicar por completo à música,
em Los Angeles. Zac, o único menor de idade que restava na formação
reconstituída da Paramore, estava prestes a conseguir o mesmo, ficando entregue
à guarda do irmão mais velho até atingir também a maioridade. E, com esses
últimos detalhes arrumados, a banda toda se mudaria para um país de distância –
incluindo o garoto que Sarah amava. Podemos realmente culpá-la por ter tido de
parar seu solo de guitarra por várias vezes para limpar as lágrimas, enquanto a
antiga, a sua Paramore fazia sua
última atuação em privado? Podemos verdadeiramente culpá-la por se sentir um
pouco triste, mesmo que isso significasse um passo em frente para os seus
melhores amigos? Podemos, sem qualquer hipocrisia, culpá-la quando, no caminho
de volta para casa, se encontrou sozinha com Taylor e, pressionada, acabou por
lhe gritar que ele não se preocupava com ela; que, no fundo, ele lhe mentira ao
esconder algo tão importante quanto essa decisão durante tanto tempo?
Não, acho que não podemos. Mas o
certo é que também não ficaremos admirados ao ver essa mesma Sarah, arrependida
pela forma como tratou Taylor, contando agora os dias para o momento em que o
perderia para a distância, encaminhar-se nessa mesma noite para casa dele.
Pedidos de desculpa foram trocados, razões foram explicadas, afetos confirmados
e Taylor deu um brilho especial à noite, perguntando “Sabe a promessa que lhe
fiz? A do bumerangue?”. Sarah sorriu e assentiu, pedindo para ele continuar.
“Eu vou cumpri-la, Sarah. Eu posso ir agora, mas eu sempre vou voltar para
você.” Podemos, por isso, deduzir que o timing
de Marie York nunca fora o melhor, em particular agora que perguntava a um
jovem quase-casal se eles queriam limonada fresca momentos antes de um possível
primeiro beijo. Contudo, perdoemos-lhe, pois as coisas que são para acontecer
sempre acham um jeito de o fazer.
Outra coisa que tinha que
acontecer, olhando em retrospetiva, era a importância que seria dada a L.A. na
vida dos nossos protagonistas. Era lá que morava Brian Jones, pai de Sarah, e
foi sua ampla casa, de cinco quartos mais escritórios, que ele ofereceu para a
semana que tanto a nova formação da banda, quanto Jane, Sarah, Lisa e –
imagine-se! – Louise, foram passar à cidade dos sonhos e dos anjos. A ideia
inicial era arranjar emprego e casa para a Paramore, o que, de uma forma ou de
outra, realmente aconteceu: quatro dos cinco conseguiram um emprego nessa mesma
semana, para além de bastantes entrevistas, e a casa… essa foi oferecida por
Brian. Arrendada, melhor dizendo. Ele estava se mudando para Franklin, porém
pretendia manter a casa em L.A. para o futuro. Era fácil para um advogado tão
conceituado e razoavelmente poupado manter ambas as casas, pelo que a renda
sairia barata para os cinco músicos e a casa permaneceria cuidada no tempo que
Brian se encontrasse fora. Um acordo proveitoso para ambas as partes.
Porém, havia em toda a situação
pontas soltas que Sarah não conseguia descodificar. Porque seria que Brian
vivia sequer numa casa tão grande, sendo que era um solteirão professo? Porque
tinha ele decidido mudar-se para Franklin a essa altura do campeonato? Por ela?
E porque andava ele tão feliz? Quer dizer, ele tinha pago a viagem tanto à
filha quanto a Louise, pagando também qualquer custo relacionado à estadia de
todo o grupo – o que incluía comida para dez pessoas, por exemplo. Era
necessária muita felicidade para oferecer tudo isso de ânimo tão leve. E, verdade seja dita, ele
não era o único parecendo mais feliz que o normal: Louise, sempre tão focada e
trabalhadora, também se mostrava relaxada e alegre, confortável tanto naquela
grande casa como naquela grande cidade. Não como se já lá tivesse estado; como
se já tivesse morado lá. Sarah
concluiu que alguém ali lhe devia bastantes explicações, mas isso apenas a
afetou de início. Através de uma conversa animadora com Taylor, ela entendeu
que as respostas viriam a seu tempo e que não valia a pena forçar isso. Seus
pais, tal como ela, precisavam de tempo para assimilar tudo o que lhes estava
acontecendo.
Para além dos assuntos práticos,
L.A. também significou muita praia, sol e diversão. Era a penúltima semana de
todo o grupo de adolescentes juntos: depois de outra semana passada em
Franklin, a Paramore regressaria a L.A. – dessa vez, para ficar. Isso era
difícil de aceitar para todos, mas a promessa de melhores oportunidades e a
certeza de que todos tinham partilhado uma amizade verdadeira e forte, como
poucas o eram, era conforto suficiente para cooperar com a realidade e
aproveitar o que a cidade solarenga tinha para lhes oferecer – o que incluía a
sua dose de romance. Todo o grupo demonstrava cada vez mais a sua disposição em
casais: Zac e Lisa como os namorados professos que, agora, se veriam afastados;
Hayley e Josh como um casal à beira da união; Jane e Jeremy como dois amigos
coloridos que, agora mais do que nunca, não teriam a oportunidade de
desenvolver uma relação; Sarah e Taylor prestes a caírem irremediavelmente nas
garras do amor, mas resistindo um pouco por conta da distância; Louise e Brian
como um casal que já fora e, quem sabe, talvez pudesse voltar a ser.
O que decidiu a visão que Sarah
tinha sobre essa última situação foi uma certa conversa aberta e franca que
Brian, finalmente, decidira ter com ela. Foi aí que lhe confessou seu desejo de
regressar a Franklin, agora que entendia que seu emprego se havia tornado numa
fachada fútil regada a dinheiro sem valor e sua vida, numa corrida solitária em
direção a objetivos insignificantes. A reaproximação da filha e, até certo
ponto, de Louise, mostrara-lhe o quanto estava perdendo em abdicar da família
em prol do trabalho. Mas foi a morte de Richard que mais o fizera entender que,
independemente da realização que o trabalho possa trazer, as pessoas que você
ama e cuja vida acaba melhorando, de uma forma ou de outra, são aquilo que vale
a pena realmente deixar para trás. Richard, um pai também ausente na infância
de Louise, devido ao trabalho, entendera isso a tempo de corrigir de tudo, de
ainda estar presente para a neta. Era tempo de Brian ver isso também, e se
tornar o pai que sempre devia ter sido.
Mas o ponto alto da conversa fora
a intervenção de Louise. Chegando depois disso, mas certamente já assistindo
secretamente o momento há mais tempo, ela também tinha algumas confissões a
fazer à filha. Contou a Sarah sobre a época em que nascera. Ao contrário do que
sempre lhe fizera crer, ela e Brian haviam sido um casal estável durante 9
anos. Tinham vivido juntos naquela mesma casa, onde Sarah também nascera e vivera
durante seu primeiro ano de vida – até ao dia em que Louise, desiludida com as
atitudes de um Brian cada vez mais ocupado e entregue ao seu trabalho, apesar
da pequena filha que tinha em casa, decidira regressar a Franklin. Louise
jurara nunca contar tudo aquilo à filha e até encorajara Brian a abandonar de
vez a filha, defendendo que, não estando realmente
presente na vida desta, não tinha porque estar presente de todo. Tudo isso
porque não queria que Sarah sentisse saudades de um tempo de que, de outro
jeito, nem se lembraria; não queria que Sarah sofresse. Porém, o que ela tinha
visto acontecer ao longo da década seguinte fora o oposto: Sarah sofrera de
qualquer jeito, revoltando-se tantas vezes contra o mundo por ver seu pai
ausente.
Hoje, Louise entendia que não
deveria ter tomado certas atitudes e sentia-se verdadeiramente arrependida por
todas as cartas, presentes, verdades que escondera da filha. Sarah, agora uma
jovem tão diferente da que conhecemos logo no início da nossa história, perdoou
ambos os seus pais e decidiu que sua vida havia se desenrolado assim por razões
que talvez ela nunca chegasse a entender muito bem, mas que tinham definido a
pessoa que ela era. Com o futuro prometedor que a pequena família tinha diante
de si, não lhe fora difícil declarar que, no final de contas, talvez preferisse
de fato a vida que tinha tido que aquela que, durante tantos anos, idealizara.
Aprendera a dar mais valor à sua família e a si mesma e, por causa disso,
conhecia-se um pouco melhor. Sobretudo, não valia a pena meditar mais no que
poderia ter sido. Ela entendia agora o que seu avô sempre lhe tinha dito: “a
vida é para frente e o desespero é para os fracos.” Ela não cairia mais na
fraqueza de se esconder da esperança.
Seria de pensar que uma conversa
como essa seria o suficiente para dar a L.A. uma conotação especial no coração
da adolescente de 16 anos, que estava, de fato, se transformando aos poucos
numa jovem mulher. Desabrochando de formas que ela nunca imaginara possíveis.
Aprendendo a se aceitar e se amar. Finalmente se sentindo preparada para
enfrentar o grande passo que tinha diante de si. Mas L.A. tinha mais algumas
surpresas para ela.
Uma delas incluía um museu de
arte moderna a que Brian iria levá-los, ainda que os tivesse que sequestrar.
Contudo, considerando o interesse e curiosidade que os 8 jovens tinham pela
arte em geral, medidas tão exageradas não foram necessárias e o grupo, animado
como sempre, comprou as entradas e vagueou pelo meio dos quadros abstratos,
surrealistas, de pop art… entre tantos outros. Eles caminhavam como um
grupo, mas numa certa sala repleta de quadros surrealistas de um mesmo artista
de estilo simples, Sarah parou. Sem se dar conta de mais nada, de mais ninguém,
ela fixou o quadro que retratava um bumerangue transformado em pássaro. O bico,
as patas, as asas criadas a partir da própria estrutura do bumerangue. Ela
olhou o nome da obra: Liberdade. Por um momento, não soube muito bem o que a
tinha prendido – talvez para sempre – àquele quadro de aspeto quase normal. Mas
aos poucos, ela entendeu. Aquele quadro retratava, melhor que qualquer pássaro
ou bumerangue, a relação dela com o Taylor. A liberdade de cada um, destinados,
como estavam, a voltar sempre um ao outro. Talvez ela não soubesse tudo isso naquele
momento, não como quem sabe uma verdade irrefutável, mas o quadro acordou nela a
saudade antecipada, assim como o amor que ela sabia que já sentia pelo seu
melhor amigo.
De pé diante do quadro, Sarah
chorou silenciosamente, soltando todas as emoções que vinha reprimindo ao longo
das duas semanas, ao procurar aproveitar os momentos que restavam com o garoto
que amava. Mas agora não dava mais. Não quando aquele artista desconhecido
conseguia retratar o amor dela tão bem. Não quando ela entendia por fim que o
que ela queria reprimir era a razão exata pela qual ela tinha que continuar: o
sentimento forte que a prendera a Taylor do mesmo jeito que estava presa àquele
quadro. A voz sussurrada de Taylor chegou a ela meros momentos antes do
próprio. Ele viu as lágrimas que manchavam a face dela e, antes sequer de
perguntar, olhou a obra e analisou-a, vendo-a através dos olhos que amava, que
entendia como mais ninguém no mundo entendia. E também ali entendeu o que
estava a acontecer, os motivos que levavam Sarah a chorar perante aquilo. A
promessa que lhe tinha feito. Mesmo sendo livre de escolher o que queria para
si, a sua primeira escolha sempre seria voltar para Sarah. Porque ele a amava
de um jeito que poucas pessoas amam nesse mundo.
Esse foi o primeiro momento em
que Sarah realmente se arrependeu por não ter beijado Taylor antes de alguém
ter tido a feliz ideia de interromper o momento e chamar o casal de volta à
realidade. Mesmo que estivessem num museu movimentado e muitas outras pessoas
fossem julgá-los como adolescentes de hormónios descontrolados. Mesmo que mais
ninguém ali entendesse. Aquele abraço tinha formado uma bolha de ar em redor
dos dois. Bolha essa que rebentara assim que Brian surgira na sala, parecendo
estar à procura deles há já algum tempo. Mas como o leitor já teve a
oportunidade de meditar acima, coisas que são para acontecer acabarão por
acontecer. De um jeito ou de outro.
O outro jeito que esse beijo há
muito esperado arrumou para se desenrolar teve como fundo uma tarde passada na
feira de diversões que se instalava em L.A. nessa altura do ano. Enquanto o
grupo decidia distrair-se com algumas
voltas numa diversão chamada “Alice’s Tea”, Sarah recusava terminantemente a
embarcar na mesma. Experiências anteriores deram-lhe certeza de que, pura e
simplesmente, não tinha um estômago compatível com aquela diversão. Então, ela
e Taylor resolveram ficar de fora e procurar uma outra, que rapidamente surgiu
sem deixar dúvidas: era uma diversão temática de Scooby-Doo, o desenho animado
favorito dos dois. Trocando um olhar entre si, eles quase correram de mãos
dadas para dentro do pequeno carrinho diante da fachada da casa assombrada que
o grupo da “Mystery Inc.” iria inspecionar, com a preciosa ajuda dos clientes aventureiros
da diversão. Pagaram os bilhetes e o carrinho começou a avançar, ainda que
soluçando. Agora que observavam melhor, a diversão não era tão jovem assim e,
pelos vistos, também não seria muito procurada. Como se eles se fossem importar
com isso, era Scooby-Doo! Aquela seria com certeza uma viagem inesquecível.
Esta última noção tornou-se ainda
mais evidente quando, já dentro da casa assombrada, luz e som morreram
definitivamente, depois de alguns segundos funcionando. Quebra de energia,
informou a voz do mesmo homem que lhes vendera os bilhetes. Eles ficaram dentro
do carrinho e não entraram em pânico, apenas aguardando por novas informações,
tal como tinha pedido a voz atrapalhada através do altifalante.
- Que lindo isso – dissera Sarah,
bufando. – A única diversão em que eu realmente queria andar e ela quebra – ela
soava como uma criança mimada. Taylor riu dela.
- Como se você não estivesse
animada por ficar no escurinho comigo… – essa foi a vez de Sarah rir, quase
como se isso fosse mentira. Talvez até escondendo algum nervosismo.
- Mas eu já nem sei se você é
mais você. E se trocaram você por outro Taylor? Ou outro Taylor por você? –
enquanto Sarah esforçava-se por manter o tom de voz misterioso, Taylor sentia a
confusão instalar-se. Como?
- Sarah. Você ainda não largou a
minha mão – ele decidiu, por fim, alinhar. Note-se ainda que o que Taylor
sabiamente salientou era verdade desde que os dois se tinham pego sozinhos,
ainda fora da diversão.
- Mas e se alguém parou o tempo,
trocando os dois Taylors um pelo outro?
- Nesse caso, como é que eu sei que você ainda é você? – toda a
história já deixara de fazer qualquer sentido há algum tempo, mas persistir era
demasiado tentador.
- Suponho que não sabe – Sarah
deduzira, deixando um toque sugestivo nas palavras.
- Hm… - Taylor suspirou, fingindo
cansaço – Então temos que verificar – antes que Sarah pudesse sequer protestar
– se é que o faria de qualquer jeito –, Taylor puxou-a pela cintura, sentando-a
no seu colo. Suas mãos ficaram pousadas nas coxas da garota, calmas, esperando.
- E agora? Como temos certeza? –
o tom dela já não era misterioso ou divertido; passara a nada mais que um
suspiro, destinado a cobrir apenas a curta distância entre ambos os rostos.
Soava, talvez, a puro desejo. E talvez, ela já não se estivesse referindo à
breve brincadeira.
- Experimentamos algo novo.
Essas palavras, tal qual uma
senha, lançaram os dois corações numa corrida desenfreada. As mãos dela,
percorrendo os ombros fortes dele. As mãos dele, subindo escrupulosamente das
coxas dela até à sua cintura, não querendo perder um único milímetro. E ainda
assim, cada partícula de desejo era adoçada com um carinho especial que só
existia entre os dois. O momento era gostoso demais para apressar, porém, eles
não se conseguiam conter. Seus narizes estavam tão perto que suas respirações
se misturavam, deixando no ar a introdução do que estaria prestes a acontecer.
Mas foi só quando as mãos de Sarah se prenderam definitivamente no cabelo de
Taylor que algo pareceu explodir. Já não era possível adiar mais.
Sarah se inclinou irrefreável,
irremediavelmente para Taylor, encostando seus lábios lentamente nos dele,
explorando cada segundo com uma fome que nunca sentira antes. Taylor selou o
beijo por fim, sua boca imprimindo mais ritmo, mais intensidade, mais fome,
mais. Pedindo mais. Sarah cedeu, não pensando em nada senão na sobrecarga de
sensações deliciosas que tudo aquilo lhe causava, experimentando essa novidade
até às últimas consequências. Duas línguas dançaram por momentos, tentando
memorizar cada sabor. E depois, faltou o ar.
Eles se afastaram, inspirando com
dificuldade, tentando recuperar apenas um pouco de consciência. Sarah abriu os
olhos e se surpreendou por se encontrarem naquela escuridão imensa. Havia se
esquecido de onde estavam e, agora, parecia-lhe impossível que não estivessem
num local repleto de luz. Então, ao encontrar o negrume onde pretendia achar os
olhos de Taylor brilhando, ela encostou sua testa na dele, deixando o sorriso
fluir naturalmente, como desejava. Os dois selaram os lábios de novo, mas dessa
vez, durante menos tempo: a voz do operador da diversão soava de novo, pedindo
desculpa pelo incómodo e aconselhando-os a ter uma boa viagem. Ele não sabia
que aquela era já uma viagem inesquecível.
Os poucos dias que restavam em
L.A. passaram tão impiedosos quanto aqueles ventos fortes que levam consigo
tudo o que conhecemos, não se importando com a direção nova em que nos
empurram. Mesmo que não seja isso que queiramos. Mesmo que não seja para isso
que estamos prontos. Mas é para lá que vamos, mais tarde ou mais cedo.
E foi para lá que Sarah foi, para
um lugar onde era necessário lidar com a ausência de Taylor e a presença de seu
pai, cada uma dessas coisas tão nova para ela quanto a anterior. Mesmo assim, a
banda estava tendo sucesso em L.A., sendo os progressos claros na música que
faziam. Em Franklin, Lisa, Jane e Sarah desbravavam corajosamente os caminhos
difíceis do ensino médio, enquanto Brian e Louise se empenhavam alegremente a
percorrer os trilhos igualmente difíceis do amor. A relação deles tinha muitas
feridas para curar, mas, devagarinho, tudo entrou nos eixos. Com Lisa e Zac,
porém, aconteceu o oposto: a distância levou a melhor, e eles acabaram por se
separar. Sarah e Taylor, o único casal do grupo que também estava lidando com a
mesma situação, tremeu. Mas como bem sabemos, nenhum sismo é forte o suficiente
para abalar esses dois.
Os dois anos acabaram por passar.
O ensino médio estava terminando para o trio de amigas, abrindo passagem para
uma nova aventura. Sarah já sabia que seguiria Jornalismo, porém ainda não
tinha certeza se em L.A. ou Nova Iorque – embora emocionalmente preferisse a
primeira opção, o prestígio de Columbia levava-a a frequentes reconsiderações.
Lisa, por outro lado, decidiu em cima da hora enveredar por Tradução e
Interpretação de Línguas, no Utah. E Jane, a livre e impetuosa Jane, escolheu
não seguir universidade nenhuma e mudar-se para Nova Iorque como baterista,
resoluta tanto em conseguir uma banda que a quisesse como mais do que
substituta, como em afirmar a sua independência.
Brian e Louise decidiram também
começar uma nova aventura… Ou talvez reiniciá-la. Enquanto Sarah descobria que
Columbia, em N.Y., a tinha rejeitado, mas que a Annenberg de L.A. estava de
portas abertas para ela, seus pais planejavam um casamento. Ela, por sua vez,
passou a planejar a grande mudança de cidade. E, no final de Setembro, os três
estavam entrando em um avião para L.A., fosse para uma curta semana de lua de
mel ou para 5 anos de curso universitário. Todos iam felizes.
5 anos depois dessa primeira
viagem, aqui estávamos nós. A Paramore ia melhor do que nunca e Jane tinha
fundando uma banda também bem sucedida, a Blue Print of a Broken Heart. Lisa
tinha terminado seu curso nesse mesmo ano, porém, ao contrário de Sarah, ainda
estava procurando emprego. Brian e Louise, felizes e apaixonados, tinham agora
uma outra filha de 3 aninhos: Theresa Marie, em honra da avó materna. Sarah, dividida
entre o novo emprego e a família, ainda estava apendendo a lidar com tanta
coisa. Mas aos poucos, entendia que estava bem na vida. Que tinha tudo o que
queria. Que era mais feliz do que, há 7 anos atrás, imaginara que algum dia
poderia ser.
Sem comentários:
Enviar um comentário